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quarta-feira, 29 de julho de 2009

AINDA O ASSUNTO “SENHOR – ESCRAVO” NO NT


A conclusão do texto "O Sentido de 'senhor-servo' no Novo Testamento", exposto neste Blog, dias atrás, foi:

"Portanto, por estar o cristianismo em um contexto sócio-político-cultural diferente daquele dos primeiros discípulos; por se considerar o pressuposto existencial da maturidade antropopaticamente atribuída à Divindade; e por se levar em consideração a palavra de Jesus (Jo. 15, 15), expila-se a expressão "senhor – servo" do relacionamento entre Jesus e seus discípulos".

            Aquele texto partiu do pressuposto de que, segundo o próprio Jesus, a relação entre o mestre e o seu discípulo era de uma intimidade característica da amizade e não da relação senhor-escravo. Toda a argumentação voltou-se para o objetivo de que hoje não cabe mais a linguagem disseminada pelo próprio finado Paulo, no Novo Testamento.
            Da leitura que muitos fizeram daquele texto, alguém retornou com uma questão pertinente, a qual será ventilada neste novo texto.
            A questão do leitor referiu-se à passagem de Mc 10, 35-45, sobre como seria o seu entendimento e se o termo "servo", no texto grego, é o mesmo usado em Jo. 15, 15.
            Pois bem!
            O texto de Mc 10, 35-45 trata do pedido que os filhos de Zebedeu fizeram a Jesus, quanto a se sentarem um à direita e outro à esquerda do Mestre.
            Do verso 42 ao 45, Jesus expõe que a política do seu reino é diferente da política dos governantes deste mundo.
            No verso 43 Jesus afirma: "oux outwj de/ estin en umin: all' oj an qelv megaj genesqai en umin, estai umwn diakonoj" ("Não será assim entre vós; mas quem entre vós quiser tornar-se grande, será vosso servo"). Neste verso, servo não é "douloj" (dúlos), mas "diakonoj" (diákonos). O termo diákonos no NT[1] tem o sentido de alguém que serve aos outros voluntariamente. Pode ser entendido como mero empregado, talvez, mordomo. E pode ou não receber salário. O diákonos na Igreja não recebe pagamento, mas é como um servidor; não é um servo no sentido de escravo. Com efeito, Jesus está dizendo que quem quiser ser reconhecido (ser grande), precisa servir voluntariamente com interesse a favor dos outros. Ou seja, deve sempre estar à disposição dos outros para favorecê-los.
            No verso 44 Jesus continua: "kaiì oj an qelv en umin einai prwtoj, estai pantwn douloj" ("quem quiser entre vós ser primeiro será de todos servo"). O termo que traduz 'servo' neste verso é douloj (dúlos), que significa escravo, propriedade de alguém, reportando-se ao serviço obrigatório e mesmo contra a vontade de quem o exerce. Embora alguém possa aventar a idéia de que Jesus quis dizer que o dúlos pertence à comunidade, não há como ratificar radicalmente essa idéia. É possível advogar que, neste contexto, pode existir uma sinonímia de idéias, sem maiores interesses semânticos quanto aos dois termos. De qualquer forma, com a possível sinonímia Jesus está enfatizando a idéia de que aquele que quiser ser visto como importante precisa estar a serviço dos outros. O próprio Jesus diz que "o uioj tou= anqrwpou ouk hlqen diakonhqhnai alla\ diakonhsai kaiì dounai thn yuxhn autou= lutron antiì pollwn" ("o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir, mas dar a sua vida em resgate de muitos"). O curioso é que, neste verso, "servir" não vem de "dúlos", porém o verbo usado é "diakonêsai". Ou seja, Jesus não serve a ninguém como "dúlos", porém como "diákonos". Jesus não é propriedade de ninguém. O contrário seria mais viável afirmar, embora ele mesmo afirmou que não considera os seus discípulos como escravo - dúlos.
A Vulgata Latina, em Marcos 10, 35-45, usa os termos minister e servus, que estão para o grego, respectivamente, diákonos e dúlos. A Bíblia na linguagem de hoje, da SBB, apresenta uma distinção quando traduz diákonos por aquele "que sirva aos outros" e dúlos por "escravos de todos". The New Testament in Today's English Version traz servent e slave. O que deixa patente a distinção de sentidos. Traduções as mais diversas apresentam também esta distinção em Marcos 10, 35-45.
            Saliente-se que esta análise puramente gramatical não é absoluta para definir doutrina, mas pode ser um dos pilares para fundamentar o fato de que Deus não tem escravos e, sim, no máximo, diáconos, como a noiva de Cristo os tem e como o próprio Jesus o foi. Jesus não deu exemplo de ser dúlos; deu, sim, exemplo de ser diákonos. Um serviço voluntário a favor dos interesses dos humanos.
Willians Moreira



[1] THE ANALYTICAL GREEK LEXICON OF THE NEW TESTAMENT. USA. Michigan: Zondervan Publishing House, 1969. Pág. 90

Um comentário:

Danilo Sergio Pallar Lemos disse...

Willians, faz tempo que não conversamos virtualmente, hoje acessei li e mas uma vez credibilizei seus textos,como inescrutaveis reflexões do saber teológico.
www.vivendoteologia.blogspot.com