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domingo, 17 de março de 2013

HOMOFÓBICO OU MISÓHOMO?

HOMOFÓBICO OU MISÓHOMO?

Saltou ao meu juízo o questionamento sobre o porquê de se identificar como homofóbico alguém que tem aversão a homossexual. Fiquei a considerar a etimologia da palavra. Logo surgiu a pergunta: O que é fobia? Em grego[1], o vocábulo é phobos. Sua semântica original aponta para temor, terror ou espanto (susto). Outro vocábulo é déos, com o sentido de medo, respeito, reverência, temor respeitoso. E mais outro, deima, também com o sentido de temor, espanto (susto)[2]. O sentido que a palavra fobia adquiriu na língua portuguesa não tem, necessariamente vínculo semântico com o phobos em seu sentido etimológico. Na verdade, em português, phobos adquiriu um sentido técnico-científico, relacionado à psicologia e à psiquiatria. Nestas ciências, phobos identifica enfermidade. Se alguém tem fobia precisa de tratamento. Que o digam os profissionais das áreas referidas.

O neologismo homofobia foi cunhado pelo psicoterapeuta norte-americano George Weinberg[3], desde a década de 60, século XX,  apresentado no ano de 1972, com o livro “Society and the Healthy Homosexual”[4], [5]. Naquele momento, o senhor Weinberg usou o termo homofobia para se referir a um estado irracional de mente, literalmente: “suffering from a psychological malady”[6], que seria manifestado por alguém que tem aversão a homossexual. Há muito tempo, esse termo assumiu um significado que vai muito além daquele que o psicoterapeuta norte-americano intencionou. Hoje o termo refere-se a atos de discriminação contra homossexual. Significa dizer que uma conceituação de homofobia ao pé da letra não faz jus ao seu significado popular. Um conceito ao pé da letra também não faz jus ao sentido que o psicoterapeuta deu, quando cunhou a palavra. Percebe-se, pois, que o uso corrente encarregou-se de somar mais e mais sentidos ao termo, como é comum no fenômeno linguístico.

O dicionário de psicologia, a partir do Blog PSICOLOGIA ACADÊMICA, conceitua fobia como termo que vem

(do gr. Fóbos, meter medo, espantar). Medo irracional e obsessivo de certos objectos, seres vivos ou situações, segundo a -> psicanálise, é um sintoma de ---> neurose ou de ---> angustia que tem origem num ---> conflito ---@ inconsciente. S. ---> Freud designou-se por histeria da angústia[7].

As palavras irracional, obsessivo e neurose apontam para uma condição de enfermidade.

O glossário de psiquiatria, contido no blog: Psiquiatria Geral[8], apresenta fobia como

Medo irracional e persistente de um objeto, atividade ou situação específicos (o estímulo fóbico), ocasionando um intenso desejo de evitá-los. Isto frequentemente leva o indivíduo a se esquivar do estímulo fóbico ou a enfrentá-lo com temor. A Fobia é um medo específico intenso o qual, na maioria das vezes, é projetado para o exterior através de manifestações próprias do organismo. Essas manifestações normalmente tocam ao sistema neurovegetativo, tais como: vertigens, pânico, palpitações, distúrbios gastrintestinais, sudorese e perda da consciência por lipotimia. As manifestações autossômicas externadas pela fobia têm lugar sempre que o paciente se depara com o objeto (ou situação) fóbico.

Portanto, este conceito também aponta para uma situação enfermiça. Fica mais patente que o indivíduo fóbico precisa de tratamento especializado.

Os humanos sofrem de muitas fobias. Algumas podem ser citadas: Acrofobia (medo de altura), agorafobia (medo de multidão), aracnofobia (medo de aranha), hidrofobia (medo de água, e no caso, águas profundas), hematofobia, claustrofobia, antrofobia, androfobia e outras tantas.

Neste passo, merece atenção um texto encontrado no site da ONU:

Em última análise, a homofobia e a transfobia não são diferentes do sexismo, da misoginia, do racismo ou da xenofobia. Mas enquanto essas últimas formas de preconceito são universalmente condenadas pelos governos, a homofobia e a transfobia são muitas vezes negligenciadas[9].

Nesta citação, a palavra fobia está associada a outros termos para nivelá-los no sentido de serem reações problemáticas que precisam de reação dos governos. O meu questionamento é: Como os governos tratarão os fóbicos, citados no texto da ONU? Ou seja, desde que fobia é enfermidade, como será tratado o transfóbico (discriminação contra transexuais e transgêneros), o homofóbico e o xenófobo (do grego, medo de estrangeiro, mas o sentido técnico usado é o de aversão a estrangeiro). Prendê-los-á, como pode ser o caso de procedimento contra ativistas racistas, sexista, e outros? Não seria melhor colocá-los num hospital psiquiátrico? Afinal eles estão enfermos. Eles contraíram uma fobia. Alguém dirá que o autor deste texto está errado, pois o sentido de fobia quando aplicado ao sentimento de ódio a homossexual é outro. Como já foi visto, é verdade. Mas o argumento em princípio é o de que o termo, no varejo, está mal empregado. Desde que o seu criador era um psicoterapeuta, certamente o sentido do termo era atinente à saúde mental. Porque se aquele psicoterapeuta houvesse dado ao termo em questão o sentido que hoje campeia, teria sido muito infeliz na criação do neologismo. Observem-se as outras palavras identificadoras de problemas a serem tratados pelos governos: sexismo, misoginia, racismo e xenofobia. Parece que os termos associados a fobia foram “inventados”, a partir do grego, por alguém que não pensou melhor sobre o sentido dos mesmos; ou não atentou para a existência de termos mais adequados ao que eles queriam expressar. Ou, quem sabe, o uso social vai modelando os sentidos destes termos com o passar do tempo, ocasionando um sentido bem diverso do que idealmente deveria ter ocorrido.

O que é sexismo, por exemplo? Quando se diz que alguém é sexista, geralmente quer se dizer que o tal é machista. E, neste caso, até mulher pode ser sexista. Neste sentido há um sentimento de menosprezo ao sexo feminino. Em sentido restrito e devido, sexismo implica em procedimentos, concretos e teóricos, que beneficiam a um determinado gênero ou orientação sexual.

O que é misoginia? Este termo foi elaborado a partir das palavras gregas, mísos (ódio) e gynê (mulher), implicando no sentido de ódio, desprezo à mulher. Um misógino é alguém que não gosta de mulher. E, neste caso, a misoginia pode ser sentimento tanto de homem, como de mulher. o sociólogo Allan G. Johnson disse: "a misoginia é uma atitude cultural de ódio às mulheres porque elas são femininas"[10]. Pode acontecer o fato de alguém que é misógino tornar-se sexista, com possibilidade também do contrário acontecer.

Agora, o que é racismo? Trata-se de ideologia que preconiza a existência de raças humanas e da superioridade de uma sobre outra ou outras. Essa ideologia pode envolver um pensamento mais ou menos elaborado, partindo preconceituosamente de teorias biológicas. Racismo envolve um sentimento de aversão a outros povos, etnias, etc. Estas três manifestações humanas são evidentemente problemáticas e passíveis de reação política governamental.

Ora, diante destas conceituações, pode-se depreender que os termos não são escolhidos com o devido esmero linguístico. Escolhe-se tal palavra grega, sabe-se lá como, e todo mundo passa a utilizá-la sem uma análise crítica da mesma.

Qual é o problema a enfrentar? Ora, se alguém padece dos sintomas seguintes, como transpiração excessiva, taquicardia, náusea, vertigem, calafrios, dor no peito, sensação de falta de ar e formigamento (sintomas de fobia) quando se aproxima de uma pessoa homossexual, então é passível de ser tratado por um profissional da saúde. Mas se o indivíduo apenas não gosta ou tem aversão a homossexual, então podem entrar em campo os emissários do governo, como propõe o texto da ONU. Qual é o mal do racista, por exemplo? É ter aversão a alguém que não tem as suas mesmas características raciais[11]. Mas se o cidadão não tem aversão nenhuma, nem sofre dos sintomas citados, apenas não concorda com a prática homossexual, que outro nome pode ser dado ao tal? Da mesma forma que alguém não concorda com outras práticas consideradas por ele como imorais e faz resistência às mesmas, pode também considerar a prática homossexual como imoral e, por conta disso, ser contrário à mesma. Não devendo, evidentemente, usar de termos agressivos contra os praticantes daquela suposta prática sexual. Assim, já não se trataria de aversão qualquer ou enfermidade, mas de uma questão de princípios pessoais adotados por tal pessoa. Consequentemente não cabe à mesma o termo homofóbico.

Daí então a pergunta: Diante do conceito técnico-científico dado à fobia, qual seria o melhor termo grego para expressar a aversão que alguém sente pela homossexualidade, chegando mesmo a usar de agressividade?[12] Existe termo grego adequado ao caso. É o que se verá a seguir.

Siga-se o raciocínio seguinte: A palavra homossexual foi forjada a partir do grego, homós [13] (igual) e do latim, sexus (sexo). Resultado: homossexual. Ou Seja, sexo igual, mais propriamente a ideia é: ter atração sexual por alguém do mesmo sexo. Para se identificar a reação contrária a este interesse sexual, pensou-se na palavra grega phobia, unindo-a a palavra homós, surgindo assim, homofobia. Por que o criador de tal proeza linguística não atentou bem para o sentido de phobos, pelo fato de que seu significado é apenas medo? Será que o seu criador queria mesmo dizer que se alguém é homofóbico está mesmo enfermo? Ou será que ele não gostou da palavra mísos?

Como foi visto, do grego, mísos (ódio, aversão) e gynê (mulher). Partindo-se do pressuposto de como a palavra homofobia foi forjada, pode-se fazer uma mudança, colocando-se a palavra “mísos” no lugar de fobia. A palavra proposta apareceria assim: homómiso ou “misóhomo”; literalmente: Ódio ao igual, aversão ao semelhante, ou, como aconteceu com homofóbico, aversão a quem gosta de sexo com pessoa do mesmo sexo. Acredito que, desta forma, melhor estaria identificado o indivíduo que tem aversão ao homossexual. Esse sim, estaria no mesmo pé de igualdade com o racista, com o misógino, com o misantropo, com o xenófobo (e por que não misóxeno?). E assim os governos poderiam agir devidamente em suas políticas antiperversidade.

Agora não sendo mudada a palavra que identifica os que têm aversão ao homossexual, há de se enfrentar a consideração de enfermidade atribuída aos chamados homofóbicos por conta do peso técnico-científico de quem é identificado como fóbico. É aí que mora outra problemática: os identificados como homofóbicos pelos homossexuais poderão recorrer também à justiça para denunciar o fato de que estão sendo discriminados como enfermos, quando, na realidade, não o são. E se o são, por que não são tratados como tais? Poderiam requerer laudo médico diante do juiz, por parte de quem os discrimina. Resolva-se o caso! Ora! O problema se agrava, de vez que os homossexuais estão a rejeitar o termo homossexualismo como referência à pratica homossexual, alegando que o tal termo refere-se a enfermidade, como é o caso de botulismo, raquitismo, etc. E homossexual não se considera enfermo. Por que o indivíduo que tem aversão a homossexual aceitaria ser colocado entre os fóbicos? Pior ainda, os cidadãos que não tem aversão a homossexual, mais apenas rejeitam a prática como obscena, poderiam também recorrer aos tribunais, pois que também não estão enfermos.

En passant, alerto aos amigos homossexuais, que precisam entender que a sociedade sempre faz resistência ao que é “novo” para ela. Uma resistência semelhante aconteceu em relação a outras aproximações de mudanças. O desquite e o divórcio receberam resistências semelhantes. É sabido como os divorciados são vistos ainda em alguns setores da sociedade; a segregação que sofrem e os vitupérios que são forçados a ouvir, por conta de serem considerados adúlteros se contraem novas núpcias, por exemplo, por muitos religiosos. Portanto, caros amigos homossexuais, tenham paciência. Paulatinamente, a sua hora chegará. Lutem, mas não agridam! Se assim o fazem, igualam-se aos seus aversivos. E se não seriam considerados fóbicos, sê-lo-iam, no mínimo, mísos, pois estariam também expressando uma aversão aos seus contrários.

Vale aqui o estribilho da Canção dos Tamoios, de Gonçalves Dias:

A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.

Willians Moreira Damasceno


[1] Por conta de muitos internautas não possuírem a fonte de letra grega que poderia ser usada pelo autor, as palavras gregas serão transliteradas.
[2] A língua grega ainda possui outras palavras que são associadas ao medo, como panikós, tromára, phríkê, phikaleótêta.
[3] Se interessar a leitura de uma entrevista com o psicoterapeuta: http://www.pflagdetroit.org/george_weinberg.htm
[4] http://en.wikipedia.org/wiki/George_Weinberg_(psychologist) – site visitado em 17 de março, às 05:40 h.
[5] Comments on the psychological factors underlying hostile public attitudes toward homosexuals and offers counseling to help individuals accept their homosexuality”. http://us.macmillan.com/societyandthehealthyhomosexual/GeorgeWeinberg.
[6] Idem – em 17 de março, às 05:40 h.
[8] http://www.psiquiatriageral.com.br/glossario/f.htm. Consultado em 14/03/2013, às 09:21 h.
[11] O conceito de raça perdura apenas no âmbito social e político, embora cientificamente não seja mais adequado esse conceito.
[12] O questionamento é pertinente, pois que os homossexuais, já instruídos, preferem a palavra homossexualidade à palavra homossexualismo, pois que ismo, neste caso, refere-se a doença. E homossexual não se como alguém portador de enfermidade por conta de sua sexualidade.
[13] Esta palavra grega possui um sinal sobre a sua primeira letra (omicrón), chamado aspiração áspera (um apóstrofo ao contrário – ‘ ) que tem o som do hagá inglês (house). A nossa palavra hora também vem do grego e tem o mesmo sinalzinho. Por isso que se coloca um hagá antes de hora, homossexual, hospital, e outras palavras. Mas a nossa palavra “rodovia”, que vem também do grego, hodós (pronúncia: rodós - caminho, estrada), é pronunciada levando-se em consideração o som do hagá inglês, que resultou em som de erre. De sorte que, em grego, a pronúncia de hora é rôra; a de homós, é romós.