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terça-feira, 30 de março de 2010

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O LIVRE ARBÍTRIO

 

            A abordagem sobre o Livre Arbítrio, do modo como a ortodoxia a elabora, via de regra, é superficial. Por vezes, a Ortodoxia preconiza uma radicalização sobre qualquer assunto por ela abordado, no mais das vezes, renegando a existência de inúmeras interpretações no âmbito do próprio cristianismo, que diferem de suas considerações. Em teologia, como em outras áreas do conhecimento humano, existem várias abordagens quanto a um mesmo assunto. Este fato alerta o inquiridor quanto a não ser prudente uma atitude dogmática, absolutizadora de conclusões sempre limitadas pelos condicionamentos do observador. Por cair neste calabouço, certas abordagens ortodoxas detêm-se apenas no que é aparente ao senso comum. E olhe lá que mesmo um senso comum mais elaborado teria outras considerações sobre um mesmo assunto. Num lance rápido, pergunta-se: quem usou o livre arbítrio para escolher o lugar onde nasceu? Quem escolheu os seus pais? Quem decidiu que devia nascer? Quem escolheu a própria etnia, a cor da pele, dos olhos, o tipo de cabelo, de sangue, etc.? Quem escolheu todas as realidades que fazem parte geneticamente do seu ser? E os condicionamentos da cultura que nos dirigem consciente ou inconscientemente, e que direcionam até mesmo o caráter do indivíduo, quem os escolheu?

            Livre arbítrio existe, mas parece ser sempre relativo aos nossos condicionamentos de conhecimento limitado, de educação situada em um contexto cultural que nos "amarra" às realidades que, consciente ou inconscientemente, dirigir-nos-ão em nossas decisões. Quer queiramos ou não, somos também produtos do meio. Por mais inusitada que seja a nossa reação ou a nossa decisão, não há como sermos isolados de antecedentes, de cedentes e de procedentes que nos indicam um caminho ou caminhos, condicionando a interpretação que fazemos das informações que recebemos.

            Autores existem que chamam a justiça divina em seu socorro. No entanto, neste particular, questiona-se: Sendo a justiça divina fundada em um conhecimento absoluto, julgaria radicalmente seres que tomam decisões fundadas em conhecimento relativo e sempre inacabado? Quando Jesus, no Calvário, disse: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem", ele incluiu em sua intercessão todos os responsáveis por sua crucificação. Para Jesus, seus algozes não sabiam o que estavam a fazer. Ora, quando sabemos absolutamente o que estamos a fazer? Quantos não se arrependem de algo praticado, mesmo tendo agido tão convictos do que faziam? Pelo fato de sermos dinâmicos, mudamos. E quando mudamos, descobrimos que ações do passado não seriam mais procedidas por nós do mesmo modo hoje. Observe que o próprio Jesus deu isto como exemplo, quando falou sobre duas cidades de seu tempo: "Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque se em Tiro e em Sidon fossem feitos os mesmos milagres que aqui foram feitos, há muito que se teriam arrependido" (Mat. 11: 21-22). Então, se Deus está interessado no arrependimento humano do modo como muitos imaginam, por que Ele não providenciou que os milagres fossem feitos nas cidades de Tiro e Sidon também? Seria o caso: Deus decidiu que aquelas cidades não deveriam se arrepender, ou o julgamento divino não está vinculado ou meramente condicionado a um livre arbítrio relativo ao nosso conhecimento limitado e falho? E se houver outra possibilidade de entendimento desta situação? Desconfio de que a abordagem absolutizadora do texto em debate seja uma possibilidade.

            Um fato é que esta observação absolutista do livre arbítrio serve mais aos interesses dos direcionamentos religioso-moralistas, causadores de um terrorismo neurotizante e perturbador do sono alheio, quando não surte o feedback financeiro que muitos diretores de creches espirituais estão avidamente a desejar.

            Parece evidente que as normas morais, principalmente as que prescrevem o controle do livre arbítrio, camuflam o fato de que ter cuidado com "as causas e os efeitos" do que decidimos acontece mais em função de nós mesmos, a sociedade. Normas morais não nos fazem mais ou menos santos; conduzem-nos para que nos tornemos mais habilitados à convivência em uma determinada comunidade. Até porque as normas de "cá", que regem nosso livre arbítrio, podem diferir das normas de "lá". Decisões de um livre arbítrio da cultura árabe podem diferir estonteantemente das decisões do livre arbítrio cristão.

            Se assim é, parece viável uma existência com livre arbítrio não afeito à estorinha que diz: "tudo que aqui se faz aqui ou em alguma parte se paga". Esta estorinha é reflexo de uma ideologia infantil, quando não terrorista, conservadorista e inibidora de muita iniciativa reparadora de males cometidos por muitos humanos sabidinhos.

            Permanece, pois, o livre arbítrio; não o absoluto, aquele que estaria desvinculado de qualquer condicionamento da existência humana.

Willians Moreira

sexta-feira, 12 de março de 2010

NO (E EM) PRINCÍPIO ERA BATISTA

Fiz questão de publicar este texto de meu amigo Edvar Gimenes.
Este texto é de uma perpscácia fantástica: Expressa perfeitamente o espírito independente ante as tendências partidaristas que atacam as personalidades inconclusas, porém ávidas de uma âncora que nunca será possível alcançar.
 
 
NO  (E EM) PRINCÍPIO ERA BATISTA
 
Depois surgiu um grupo que era, além de batista, bíblico.
Não fui com eles, então disseram que eu era herege.

Surgiram então os regulares, ortodoxos.
Não fui com eles e disseram que eu era irregular, hétero...

 
Surgiram os conservadores.
Não fui com eles, então me carimbaram como progressista.

Surgiram então os do 7º dia.
Não fui com eles, pois não queria ser sabatista, só batista.

 
Surgiram então os renovados.
Não fui com eles e disseram que eu era tradicional.

Surgiram então os reformados.
Não fui com eles e disseram que eu era envelhecido, rachado, engoteirado.

 
Surgiram então os fundamentalistas.
Não fui com eles e disseram que eu era liberal.

Surgiram então os neo e os pós-pentecostais.
Não fui com eles então disseram que eu era um "Brastemp", racionalista.

 
Surgiram os "com propósito".
Não fui com eles, então disseram que eu estava vagando, sem direção.

Surgiram também os da "Rede".
Não cai nela e disseram que estava me afogando.

 
Surgiram os do G12.
Não fui com eles, por isso disseram que eu era cego, sem visão.
 
Mantive-me no que outrora classificavam como tradicional,
Sabendo que a história não havia chegado ao final,
 
Eis que surgem os históricos.
Será que receberei o adjetivo "a-histórico" (ou "Anistórico"?)
ou soará melhor "pré-histórico"?

 
Bem, outros tipos de batistas existem por aí
E muitos novos pra sempre surgirão.
Não vou com eles nem contra eles,
Pois isto também é ser batista: poder ir ou ficar livremente

 
Sou batista porque ser batista é não ter,
Mas poder ser a própria crise de identidade e se aceitar e se assumir assim.
É conviver como que "quanticamente", num harmonioso estado de tensão,
Inclusive na contramão dos apocalipsistas de plantão.
Se alguém se ofender, peço, antecipadamente, perdão,
Pois não foi esta a minha intenção!!!

Edvar
http://blogdoedvar.blogspot.com/
www.ibgraca-ba.com.br