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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

MUDANÇA E ALTERAÇÃO DE NOME

O texto bíblico apresenta várias ocorrências em que pessoas tiveram seu nome mudado. Temos os casos mais típicos, como o de Abrão que passou a Abraão; o de Sarai que passou a Sara; o de Jacó que passou a Israel; o de Cefas que passou a ser Pedro, e o de Saulo que passou a ser Paulo. Essas mudanças de nome davam-se em função de um encontro com a divindade adorada por aquelas pessoas. A mudança de nome implicava em uma mudança de caráter ou de vida.
Os casos bíblicos davam-se não em função do querer da pessoa, mas por conta do querer da divindade. Era assim e ponto final! E o indivíduo nem mencionava se gostava ou não do novo nome recebido. Recebia e pronto! O caso de Sarai, que significa princesa, passou a ser Sara, que significa riso. O pior (e pior mesmo!) é que o nome Sara lembrava uma reprimenda de Javé contra a portadora daquele nome. Eu no lugar dela não teria gostado. Mas, fazer o quê? Foi Javé quem mandou! Submeta-se!
Casos há em que as pessoas desejam mesmo a mudança do seu nome. E com muita razão, pois que são vítimas de mentes paternas que se destituíram de qualquer senso do ridículo ao colocarem nomes em seus filhos. É o caso de nomes como: Prelediana, Jacobina, Lampreia, Bucetilda (aconteceu mesmo!), e tantos outros que justificam o desejo de seus portadores de que quererem mudar de nome.
Bem! A justiça felizmente deu direito aos insatisfeitos para mudarem seus nomes e estes já usam do tal dispositivo.
Casos menos drásticos são os que tratam de alteração no nome quando do casamento. Digo assim, pois que muitas mulheres trazem sobrenome de marido que, se o casamento for tão feio quanto o sobrenome deles, elas devem sofrer horrores.
Até pouco tempo, só as mulheres usavam o sobrenome do cônjuge. A justiça, no entanto, abriu espaço para que as tais decidissem se quereriam ou não o acréscimo em seus nomes. E, para tornar as coisas mais justas, a justiça deu também aos homens o direito de alterarem seu nome, adicionando o sobrenome da família da esposa ao seu. Foi o que eu fiz no meu último casamento. Antes eu me chamava Willians Moreira. Agora me chamo Willians Moreira Damasceno.
Bom! Eu sei que para os machistas isso é um agravo, mas pouco se me dá o que eles pensam. Uns riem; outros fazem cara feia; outros dizem que sou manicaca, etc. O fato é que gostei mesmo de fazer o que fiz. O que é justo é justo!
Para os que gostam de estudar o significado dos nomes, e aqui penso também naqueles que são numerólogos, fica o meu questionamento sobre que tipo de significado passa a ter o meu nome, de vez que fiz nele uma alteração.
O fato a testemunhar é que ainda acho estranho assinar meu nome depois do acréscimo feito. Afinal, foram cinquenta anos assinando só os dois primeiros nomes.
Willians Moreira Damasceno.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

BALANÇO DE AUTODOAÇÃO

Se fosse possível pegar de volta o que você deu a alguém, o que você pegaria? Pergunto isso porque sei que é fato que se fosse possível, teríamos mesmo de volta muito do que já demos a muitas pessoas. Alguns querem de volta coisas materiais; outros querem coisas emocionais; outros querem coisas espirituais. Alguns querem de volta o tempo. Principalmente quando percebem que aquele tempo dado a alguém poderia ter sido dado a outra pessoa.
Eu, particularmente, não quereria de volta coisas materiais, a não ser um ou dois livros; e isto pelo valor cultural, nunca pelo material. Também não os quereria apenas por querer, como a desejar que alguém algo meu não tivesse.
Às vezes, eu gostaria de não ter dado certas emoções que dei a alguém: emoções de ódio, de amor, de carinho, de indiferença, de desprezo, de inveja e outras tantas, favoráveis e desfavoráveis que já dei a muitas pessoas. Afinal, com cinquenta anos já me envolvi em muitos relacionamentos e continuo a me envolver.
Por muito tempo dei minha vida a muitos de forma intensiva e intensa. Esquecia-me de mim quase que o tempo todo, mesmo que não parecesse. Mas aquele tempo passou. Hoje continuo me dando a muitos, mas não mais com as motivações do passado.
O melhor de tudo hoje é que tenho alguém a quem dou tudo o que posso e tudo o que sou; alguém de quem não quero coisa alguma de volta, pois que deste alguém eu mesmo sou e de volta não me quero. Tenho me perguntado se esse não é o ponto em questão. No passado, parece que dei algo de mim, mas até que ponto entreguei-me como sou entregue hoje? O problema é que às vezes nos entregamos mesmo, mas, com o passar do tempo, somos devolvidos a nós mesmos sem que o outro perceba que a cada dia faz a devolução. E o pior de tudo é que quando alguém a nós se entrega, muitas vezes, nós mesmos não percebemos que fazemos também uma devolução.
Willians Moreira Damasceno.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O KOINÊ

O KOINÊ[1][2]

  

O único termo técnico usado mais comumente como emblema para o Grego do período helenista é a palavra koinê. Esta palavra grega significa simplesmente "comum"; o significado desta palavra no contexto aqui empregado requer uma definição que suplemente a mera tradução. Grego koinê tem três qualificações distintas: 1) A qualidade temporal de ser posterior ao período do grego clássico; 2) A qualidade "comum" refere-se a não ser um dialeto, mas um amplo desenvolvimento da linguagem popular; 3) A qualidade de ser "comum" em um sentido cultural, de ser "vulgar", aqui sendo mais uma distinção entre o koinê semiliterário, que está próxima do estilo clássico, e o koinê não literário, usado pelo povo de pouca educação formal.

O primeiro sentido de koinê, o temporal, como grego falado e escrito após o período do grego clássico, tinha passado longe de encontrar seu significado no fato de ser apenas uma mudança de linguagem, mesmo porque não somos todos conscientes de mudanças na nossa própria língua. A mudança social e a variedade infinita do pensamento humano fazem ricas contribuições para o desenvolvimento e diferenciação da linguagem falada e escrita.

Essas mudanças notáveis na pronúncia e vocabulário são acompanhadas pela pequena, mas significante mudança na forma. O grego clássico foi mais sintético do que o Inglês moderno. Quando um falante de Inglês moderno diz: "I have loosed", ele usa uma linguagem analítica. Quando o grego antigo expressava a mesma ideia para dizer le,luka, ele usava uma linguagem sintética. A palavra grega foi construída pela adição de um prefixo e um sufixo à base verbal. Essas adições são chamadas "inflexão". No curso do tempo, o grego clássico tornou-se menos sintético ou com menos inflexões e mais analítico. O progresso nessa direção foi comparativamente rápido nos três séculos depois de Alexandre, o Grande, e tem continuado até o presente, embora no grego moderno não haja infinitivo, o particípio tem somente uma forma.

Mas isto não significa que não houve um padrão depois de Alexandre. O uso da prosa ática no período do grego clássico tornou-se o padrão da excelência linguística. Isto deu razão para um movimento definitivo no primeiro século a. C. – O Aticismo, uma imitação do uso ático. Mas o número de pessoas falantes da língua grega cresceu rapidamente em cada geração; uma linguagem simples e comum foi requerida por ambos, exército e império, estendendo-se sobre a Grécia, Síria, Ásia Menor, Egito e ilhas do mar. O desenvolvimento resultante fez a língua koinê linguisticamente significante para definir o grego helenístico como grego pós-clássico.

Dissemos acima que o Koinê era "comum" também no sentido de que não foi apenas um dialeto, mas era singularmente a possessão comum de todos aqueles que falavam grego no período pós-clássico. Várias tentativas foram empreendidas para identificar elementos locais ou provinciais no koinê, mas nada foi encontrado que recebesse aprovação geral dos estudiosos. Certas palavras, no entanto, ou certos significados têm sido identificados como peculiar ao Egito ou Síria e Ásia Menor, mas não há uma distinção clara entre o Koinê egípcio e o sírio como há entre dialetos antigos, como, por exemplo, entre o ático e o dórico. A fonte principal do Koinê foi o grego ático, mas alguns elementos foram incorporados de outros dialetos, notavelmente o jônico.

O segundo sentido de Koinê é o sentido de linguagem popular. O grego literário do período era mimético. Em geral, pode ser dito que quanto mais culto um autor era, mais aticista era a sua palavra. Se o escritor era alguém popular, diz o escritor de orientação recebida no Egito, ele nunca sentiu a influência do estilo ático. Mas se ele era um intelectual, como Luciano o foi, ele fez aparecer o modelo ático em tudo que escreveu. Entre esses dois extremos não há um abismo vazio. Pelo contrário, todos os graus possíveis de Aticismo podem ser ilustrados a partir de escritores desse período. Nem todos foram igualmente bons aticistas em todos os detalhes. O historiador Deodorus, escritor que usou o koinê, intercambiou eivj e evn, mas se aproximou do uso ático no seu emprego de pri,n comparado com o uso do aticista contemporâneo (de sua época), Dionysius de Halicarnassus. O grego mais comum no Novo Testamento é o grego do Apocalipse; mas seu autor claramente distingue a função de eivj e evn. Lucas é um dos autores mais cultos do Novo Testamento, mas ele confunde as duas preposições. Onde existe variação igual, uma clara divisão entre a literatura e o grego não literário é uma impossibilidade, mas é possível iniciar com a linguagem das massas como é preservada em papiro, depois avançar pelos autores que melhor refletem o vernáculo como aqueles do grego bíblico, Epiteto, Estrabão e Deodorus, e excluir do grupo do grego não literário todos os aticistas declarados.

Este grego não literário foi vigoroso, vivo e renovado com o ritmo da vida diária. Radermacher tem uma grande frase, "O período helenista amou as expressões vivas". Este é um elemento comum de todos os vernáculos. No Koinê isto significa o uso do presente histórico na narrativa, o uso do perfeito com o sentido de presente, uma preferência por superlativos sobre comparativos e por discurso direto de preferência ao discurso indireto. Há um constante superesforço para um destaque característico de qualquer ingênuo, autor iletrado. Um destaque falso como "a mesma coisa", "todo e qualquer", "bem único" guarneciam suas composições; e elas tinham suas reproduções no koinê não literário do período neotestamentário.

O vernáculo preconiza severamente por tal destaque. Esta direção para aquela superabundância de expressões características do jornal moderno como acontece também no grego koinê. Pronomes são usados como substantivos por verbos que não precisam deles; eles são espalhados abundantemente por todas as cláusulas. Glossário parentético apresenta-se em um corpo de sentenças inumeráveis. Preposições e advérbios acumulam-se antes e depois de verbos; verbos compostos são preferidos a formas simples; frases preposicionais substituem o caso simples, etc.

A ênfase forte e a redundância do Koinê são compensadas pela sua simplicidade. Na medida em que é linguagem do povo, carece ou não atende as subtilezas de expressão que satisfez grandes mentes da idade do ouro de literatura grega. A perda do dual e o optativo é devida não somente à "tendência" generalizada da linguagem grega de abandonar inflexão, mas também de limitações de pensamento simplório. A simplicidade do Koinê é devida à sua carência de subtilezas e sofisticação em seus autores. Aquela glória da prosa ática, a abundância de conectivos adequados para expressar as diferenças mínimas na relação de cláusulas, é um dos últimos elementos da linguagem a ser dominado por estudante moderno. No mundo antigo o uso de todas estas conjunções foi além do mercador egípcio e do soldado romano – não somente além de sua habilidade, mas também além de suas necessidades. Portanto, o Koinê conhece poucas conjunções. Sua conjunção favorita é "e", [...]. Cláusulas coordenadas, em grande parte, são de conjunções subordinadas como em muitos outros vernáculos. Se o Koinê lembra o hebraico nessa área, fá-lo por igual razão que sua semelhança Anglo-saxónica.

Mas a linguagem do povo não é totalmente simples e limitada. Na ocasião em que um escritor mais sofisticado (pelo menos na idade de ouro) evitaria a palavra poética e culta na escrita de uma prosa simples, o escritor do Koinê frequentemente usaria uma classe que bem aceitasse o estilo pomposo com o suspiro reverente, "ele conta justamente como um livro!" Há frequentemente um sabor livresco no Koinê; frases poéticas, palavras arcaicas, expressões (tags) sofisticas (cultas) são usadas para dar cor (ao escrito).

Este grego vernacular antigo está longe de evitar descrições paradoxais. Sua linguagem era robusta, porém limitada; vulgar, porém exaltada pela simplicidade; reduzida, porém colorida, e tão variada para fazer todas as generalidades inexatas quando aplicada a si.

Traduzido por Willians Moreira Damasceno

[1] WIKGREN, Allen. Hellenistic greek texts. Chicago e London: The University of Chicago, 1947. Págs. 22-26.

[2] Qualquer sugestão sobre esta tradução será bem aceita.