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terça-feira, 10 de julho de 2012

PLATÃO X ARISTÓTELES


PLATÃO X ARISTÓTELES
O CONHECIMENTO E O PAPEL DA POESIA 
            Platão concebia o conhecimento basicamente em duas dimensões: a dimensão do sensível e a dimensão do inteligível. A primeira dimensão refere-se às realidades do mundo captadas pelos nossos sentidos e a segunda refere-se ao mundo das ideias. A relação era existente em virtude de as realidades do mundo sensível serem apenas imagens do mundo das ideias, do mundo inteligível. Estabelecidas estas dimensões, Platão argumentou que a poesia habitava o reino das imagens, mero fruto da imaginação humana. Para Platão, tudo o que se baseava no imaginário degenerava, desvirtuava a realidade do modelo. Por esta perspectiva, o resultado da poesia seria a sua exclusão da cidade ideal.
            Em contrapartida, Aristóteles resgatou o mundo sensível. Ele entendeu que o nosso conhecimento só conta com o mundo sensível. A realidade é apenas o mundo sensível. Esta premissa abriu a porta para a aceitação da poética, como realidade que possibilita à natureza alcançar o seu objetivo, a sua finalidade. Na verdade, Aristóteles abriu espaço para que a poesia se tornasse autônoma, possibilitando ao homem uma realização que a natureza, por si, não era capaz de lhe proporcionar.
            Diante destas abordagens, são percebidas as diferenças entre os dois pensadores.
            Na Poética de Aristóteles são encontradas a Poesia e a Filosofia como disciplinas que tratam do fato universal, enquanto a História trata do fato particular. Detém-se a história no indivíduo, enquanto a Filosofia e a Poesia tratam das realidades que se aplicam a todos os indivíduos. Enquanto a história narra um fato particular, situado no tempo e no espaço, a Poesia procura imitar a realidade de modo a podermos identificar na sua imitação uma referência ao fato universal, do qual o fato narrado pela História é apenas um exemplo. A Filosofia, por sua vez, não narra o fato como também não o imita, antes procura explicá-lo logicamente, de modo que esta explicação sirva para toda e qualquer manisfestação do fato narrado ou imitado.
           A expressão de Aristóteles: "A arte imita a natureza" cabe bem para sintetizar a Poética. Partindo desta expressão, com a ideia de mímese em mente, a Poética pode ser conceituada como a arte que, através da imitação criativa, visando a purificação do homem, completa o trabalho da natureza, tornando o homem um ser melhor em face do trabalho inacabado da natureza.
Willians Moreira Damasceno 

PLATÃO E O PROBLEMA DO CONHECIMENTO


            Platão considerou-se habilitado a resolver os problemas filosóficos quando elaborou a teoria das ideias. A intuição fundamental de Platão foi que as imagens existem porque existem as ideias; tudo quanto experimentamos no mundo do sensível é reflexo de uma dimensão superior. Uma coisa é bela porque participa da Beleza; é verdadeira porque participa da Verdade; é boa porque participa da Bondade; é humana porque participa da Humanidade, considerando-se que as realidades do mundo sensível (as imagens) não esgotam a natureza de suas ideias. O mundo sensível é causado por sua participação no mundo intelectual. Existindo o mundo sensível, entende-se que existe, por sua vez, o mundo intelectual.
Um aspecto do mundo sensível, merecedor de consideração, é a sua relatividade. Os objetos deste mundo chegam ao nosso conhecimento condicionados ao nosso estado de relação com as imagens. A Alegoria da Caverna expressa bem esse ponto. A visão que as pessoas alcançam é relativa ao seu posicionamento em relação à parte da caverna. Em outras palavras, neste mundo os homens em geral são reféns do seu ponto de observação; ou seja, todo olhar sempre acontece a partir de uma posição já estabelecida, um pressuposto.
De acordo com a teoria platônica, o conhecimento passa por quatro etapas, níveis ou graus em sua realidade de apreensão por parte do homem.
A primeira etapa é chamada de imaginação. O objeto de conhecimento é uma sombra, o reflexo da coisa sensível. Na segunda etapa, o modo de conhecer pela crença busca coisas sensíveis, percebidas, que farão parte das opiniões; na terceira etapa o raciocínio dedutivo tem por objeto a idealidade e carece de representação. No último grau temos a Intuição Intelectual, tendo a ideia pura como objeto.
A correspondência elaborada por Platão tanto passa pela relação entre os objetos de conhecimento e os modos de conhecer, como também pela relação correspondente entre os mundos do intelecto e do sensível. A correspondência entre os modos e os objetos do conhecimento dá-nos um direcionamento na reflexão. O questionamento surge no momento em que se configura a absolutização da correspondência. O questionamento se firma em face de se entender que o reino da opinião e da crença ultrapassa os limites do conhecimento sensível ou experimentável, chegando até ao âmbito da intuição, visto que a própria alma é fruto de uma concepção que não faz parte da reflexão de muitos outros filósofos. A questão se estende quando se leva em consideração a própria física quântica que quebra muito do conhecimento dedutivo, abrindo espaço para compreensões que extrapolam os conceitos antes estabelecidos.
Na verdade, Platão foi sui generis enquanto sintetizador de Parmênides e Heráclito e, talvez, nada mais do que isso.
Willians Moreira Damasceno