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domingo, 25 de janeiro de 2009

CONSTRUÇÃO

Tudo é construção.

Qualquer observador, por menos desavisado que seja, poderá constatar que tudo na vida é construção. Desde o primeiro instante, qualquer tarefa que o homem realiza passa por um processo de acúmulo de informações, de aquisições, de conhecimentos, e de outros fatores, que, somatoriamente, levam a um resultado. Um edifício, por exemplo, é a somatória de muitos fatores: primeiro, o material; segundo, os procedimentos; terceiro, o pessoal; quarto, o tempo na execução; quinto, a cooperação; não necessariamente nessa ordem; e tantos outros fatores que podem ser adicionados aqui são todos envolvidos no resultado final: o edifício. Se esse mesmo raciocínio for levado em consideração, pode-se dizer que tudo na vida é um edifício. Está aqui o homem com o edifício do seu conhecimento. E este sempre em processo. Não se admite pensar que tudo que o homem sabe hoje, seja em que área for, é produto acabado e que lhe foi dado de fora ou de cima: algo recebido sem sua participação e sem sua ação, uma revelação. Todo o corpo do conhecimento humano, seja em que área for, é o resultado do processo de uma somatória de experiências nos mesmos moldes da construção de um edifício. Especular a interferência ou mesmo condução de um agente externo ao mundo é pura ilusão; quem sabe, uma tentativa de validar absolutamente o edifício do conhecimento humano, não querendo reconhecer a sua efemeridade e o seu valor relativo a todo um processo de vida, ao qual o homem está sujeito.

Pensar desta forma abre uma nova perspectiva de avaliação do que se tem construído. Num primeiro aspecto, queda-se aberto para revisões na ação de construir. Isso implica em verificar se os resultados têm sido alcançados a contento. Implica também em melhorar a própria ação. Implica em abandonar o que se entende inócuo, desvantajoso, dispendioso, etc. Implica mesmo em abandonar a construção do que quer que seja, se há a constatação de sua imperfeição, de suas ineficiência e ineficácia. Nesse ponto, não há mesmo porque insistir em continuar a construção. É preciso jogar a toalha e admitir o fim do processo. Qualquer insistência pode ser mero capricho.

O melhor, logo após, se não for reconstruir, é iniciar uma nova construção. Não deve haver mentalidade de desistência de continuar construindo. Mesmo que seja em ordem diferente do que se construía antes. Não é recomendável parar. A natureza mesma não desiste. Ela sempre está em recomeço. Por que o homem não estaria? Por mais idade que se tenha, o lema é: recomeçar. E recomeçando, avançar. E avançando, crescer. E crescendo, alegrar-se. E alegrando-se, viver.

Eis a essência da construção: a vida. Ou seria o contrário?

Willians Moreira

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A ÉTICA DO ESTOICISMO

O universo é um todo animado, vivo e racional. Nenhum resquício de irracionalidade afeta a natureza. A razão divina, Zeus, rege o mundo e tudo o que nele se encontra. Há uma ordem necessária e perfeita atuando sobre todo o universo. A natureza não tem emoções e por isso não sofre ante o que o homem entende como sendo mal e bem, pois que mal e bem são inexistentes para a razão universal. A partir desta compreensão da natureza, o estoicismo elabora toda uma compreensão de realidade que determina a sua relação com a própria natureza e com o próprio homem. Assim, são constituídas várias noções que formam o conteúdo da filosofia estóica. Uma noção de Lei Natural; um ideal cosmopolita do mundo; uma visão fatalista da vida e uma prática da ataraxia, ou seja, uma apatia em relação às afecções da existência. Essas noções, in passant, procurar-se-á abordar neste texto.

A NOÇÃO DE LEI NATURAL
Lei natural é todo o direcionamento que a razão universal estabelece na condução da natureza. Lei esta que afeta todos os seres humanos e demais fenômenos do universo. Todos os seres são guiados infalivelmente pela razão universal e esta fornece normas infalíveis de ação que constituem o direito natural. Assim sendo, há uma lei na essência da natureza, que afeta todos os seres. O ser humano, como parte deste universo vivo e racional, tem condição de viver de acordo com esta lei natural. Esta lei natural é acessível ao homem (acessível porque lhe é inerente) pela razão que nele habita. O conhecimento da física esclarece que tudo acontece segundo a razão universal, a vontade de Deus e o destino. Essa Lei colocou no homem e nos demais seres a lei de autopreservação. E neste sentido, todo o ser obedece necessariamente ao destino. Aonde o ignorante vai pela força, o homem sábio, estóico, vai voluntariamente. Diante desta consciência, o estóico não deve ser visto como um inconseqüente que, resignado, “deixa estar para ver como é que fica”. Na verdade, esta disposição estóica é um direcionamento para a ação. A Natureza age; Zeus é atuante. Logo, o homem, porque também natureza, também é agente; agente segundo as leis que a razão universal lhe colocou na alma.

O IDEAL COSMOPOLITA DO MUNDO
O mundo estóico é um universo de corpos. Todas as causas que incidem neste universo são corpóreas. Não há causa que não tenha um efeito e ambos são corpóreos. Há uma interação mútua entre todas as coisas. Na verdade, o universo é uno e contínuo. Toda a natureza é uma continuidade. Há uma simpatia do universo consigo mesmo. Seres e coisas são simpáticos entre si. Desta perspectiva de uma simpatia física no universo, alcança-se uma simpatia no plano metafísico e ético. Em virtude disso, o sábio não se proclamará apenas cidadão de uma mera cidade, mas se conceberá como cidadão do mundo. Restringir-se a uma cidadania limitada pela polis é não atender ao ideal da natureza.
“Zenão – disse Plutarco [61] – escreveu uma República muita admirada, cujo princípio é: que os homens não devem separar-se em cidades e povos que tenham leis particulares, porque os homens são concidadãos, já que há para eles um só caminho, uma só ordem das coisas (cosmos), como para um rebanho unido sob a regra de uma lei comum. O que Zenão escreveu como se tivesse sonhando, Alexandre realizou; ... Reunindo como em uma cratera todos os povos do mundo inteiro; ... e ordenou que todos considerassem a Terra como sua pátria, a seu exército como a acrópole de todos, as pessoas de bem como parentes e as de mal como estrangeiros”.[1] O cosmopolitismo traduz assim, no plano moral e social, a simpatia universal.

A VISÃO FATALISTA DA VIDA E A PRÁTICA DA ATARAXIA
Para o estoicismo, Destino é lógos, e este é nómos. Este destino, este lógos, este nómos, é Zeus; é a própria ordem em sua ordem de causas e efeitos. O universo como um ser vivo submetido a Zeus, ao Destino, possui uma teleologia em função da razão divina que o dirige. Em função desta, todo o destino está traçado. Toda ação humana está assim submetida à fatalidade das leis universais que levam o universo para o seu alvo. A liberdade humana é pura utopia. Desde que tudo está dirigido, determinado por causa e efeitos oriundos do todo, o homem, como mera particularidade, está submetido ao destino, do qual não pode se esquivar. Assim, a excelência estóica desenvolve-se numa busca de renúncia a todos os bens do mundo, cujo curso é fatalmente determinado. Na verdade, a atitude estóica labora na compreensão de que não se pode fazer coisa alguma contrária ao que está determinado pela natureza. É fatal o acontecimento do que está determinado pela natureza. Não há porque o homem se esgueirar numa contraposição ao que é fato consumado como fenômeno natural. Resta então se entregar à indiferença quanto a tudo, salvo o pensamento, a sabedoria e a virtude: os únicos bens verdadeiros. A prática da ataraxia constitui-se numa indiferença às afecções. A indiferença é o caminho para a imperturbabilidade ante a fatalidade do destino. A apatia, a serenidade, é desenvolvida numa luta dura e interminável até o momento da morte.
A felicidade estóica é alcançada por uma atitude ante a existência. A compreensão de homem é bem aristotélica: homem feliz é aquele com capacidade de enfrentar situações adversas com autodomínio. O homem estóico é dono de si (evgkrathj). O ideal mesmo do estóico é dominar-se a si mesmo ante o determinismo universal. Tudo o que vier a lhe acontecer não estará fora de sua vontade. Parece, no entanto, uma virtude sempre negativa. Afinal, trata-se de renunciar a praticamente todas as possibilidades de emoção, negativa ou positiva, quando, na verdade, a emoção não está fora da natureza e, por isto, é também natural. Seria aceitável um domínio racional da paixão, mas, tratando-se de um autodomínio para a destruição da mesma, vê-se a impossibilidade de uma felicidade estóica. Um homem sem paixão, como um deus entre os homens, é mesmo impraticável. Um homem sem paixão não é Homem.
O que seria, pois, viver segundo a Natureza, ou de acordo com nossa própria natureza? Na Natureza não haveria espaço para o sofrer às afecções com atitude não estóica? Chorar, inquietar-se, seria antinatural? Ora, se está no homem o potencial de inquietação, seria este contrário à natureza? Não é a inquietação, ante momentos adversos, que leva o homem a tomar atitudes criativas, muitas vezes? Pelo pensamento estóico “quando todas as ações praticadas promovem a harmonia entre o espírito existente em cada um de nós e a vontade do ordenador do universo”, nisto consiste a excelência do homem feliz.[2] O friso cai sobre a busca de harmonia entre a nossa natureza e a natureza de Zeus. Parece que se entende que uma e outra são de mesma essência. Mas o prisma de orientação parte de fora para dentro do homem, ou seja, de Zeus para o homem. Com outras palavras, se Zeus é indiferente às afecções, para o estóico, o homem deve sê-lo também. Por qual argumento se chega a esta conclusão? Somos então compelidos a dizer que a natureza, constituindo o ser vivo, fê-lo caro a si mesmo, pois assim ele repele tudo que lhe é prejudicial e acolhe tudo que lhe é útil e afim”. [3]
A felicidade estóica estaria em o homem tornar-se apático como a Natureza; como Zeus; com a Razão universal. E isto com qual fim? Com o fim de conservação da vida, bem este supremo, colocado no homem pela Natureza, por Zeus.
Willians Moreira
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. Brasília. Editora UnB, 1977, 2ª edição. Págs. 374.
http://consciencia.org/antiga/estoicismobrehier.shtml
BRUN, Jean. O estoicismo. São Paulo. Edições 70, 1959. 101 págs.
[1] http://consciencia.org/antiga/estoicismobrehier.shtml
[2] LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. Brasília. Editora UnB, 1977, 2ª edição. Pág. 202.
[3] Ibid. Pág. 201.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

CONSIDERAÇÕES SOBRE A ALEGORIA DA CAVERNA[1]

A interpretação da alegoria da caverna passa, originalmente, por uma compreensão platônica do que seja dialética; dialética esta que não comporta a síntese entre opostos, mesmo que apresente um processo evolutivo para uma dimensão superior de conhecimento, na qual se encontra a verdade. No caso platônico, a verdade está no reino das idéias. O mundo da caverna é o mundo das aparências, do falso, portanto, oposto ao mundo da luz, o exterior da caverna. A dialética platônica é pois, uma dialética sem síntese. No Entanto, é possível interpretar-se a mesma alegoria pelo prisma hegeliano de dialética, uma dialética que comporta uma síntese. Por este prisma, a verdade não está num estágio superior, meramente contrário ao seu anterior. A verdade está na identidade dos opostos entre si; com uma conciliação entre os contrários. Mesmo que Hegel não utilize a tríade: “tese-antítese-síntese” quando trabalha o seu método especulativo-dialético, faz-se viável a terminologia “tese-antítese-síntese” para explicar o processo que acontece no “mito da caverna” de Platão, no qual as sombras representam a dimensão de finitude ou limitação da condição humana e a luz, o exterior da caverna, representa o infinito mundo da verdade, um mundo aberto, ilimitado. No interior da caverna, os homens fazem uma idéia da existência que se limita aos condicionamentos ocasionados por falta de liberdade ou em virtude das limitações de perspectivas. O que vêem e o que sentem, se é que conseguem, dirigem as suas conclusões finais. No entanto, sempre há quem queira mais e não se acomode. Parte deste a iniciativa de buscar o que pode ser entendido como a antítese, o não-ser do ser da caverna. A antítese se encontra fora da caverna. Enquanto existe sombra na caverna, fora existe luz. Aquele que sai da caverna pode provar de quais substâncias são as duas realidades. Marcante é entender que estas duas realidades se explicam uma pela outra. E só chega à síntese quem não absolutiza uma delas. É a capacidade de sintetizar que possibilita a volta daquele que um dia deixou a sombra do interior da caverna. O texto sugere a volta motivada pela compaixão. Compaixão esta que não é paternalista, antes é caracterizadamente pedagógica, já que permanecer nas sombras reflete um estado infantil de reflexão, mesmo que este estado tenha o que ensinar ao homem. Para aquele que volta, as sombras são uma realidade tanto quanto a luz. E só se compreende uma quando se conhece a outra. O ensino básico constitui-se no fato da periodicidade e dinamismo que tornam constantes em nós o estado de sombra e o estado de luz, finitude e infinitude, fechamento e abertura para o universal. Não há como ficar isentos de uma destas realidades. A experiência humana representada naquele que sai e volta é de maturidade, embora não de perfeição acabada.
Uma relação com esta alegoria pode ser encontrada nas expressões de movimentos ideológicos radicais. De passagem, podemos citar as atitudes, pensamentos e ações de grupos fanáticos que, intransigentemente, não aceitam e rechaçam manifestações contrárias às suas doutrinas. Partindo do pressuposto de que para toda tese há uma antítese, fica difícil para os que estão em cavernas doutrinárias relacionarem-se com os que buscam a síntese ou apresentem apenas a antítese.
De uma perspectiva mais focalizada em indivíduos, temos exemplos em Sócrates, Jesus, Freud, Nietzsche, Galileu, Espinoza, Giordano Bruno e outros, que se libertaram da caverna das tradições e encontraram outros parâmetros de verificação do conhecimento e da realidade.
O mundo é palco de ambos os momentos: sombra e luz. Cabe ao homem extrapolar esta dimensão dualista e avançar para uma compreensão global e sintética que lhe possibilite conviver com o pluralismo iluminado da verdade.
Willians Moreira

[1] BIBLIOGRAFIA: PLATÃO. A república. São Paulo: Martin Claret, 2000. 320 págs.

sábado, 10 de janeiro de 2009


A versão sartreana do existencialismo tem como postulado central a máxima: “a existência precede a essência” (SARTRE, 1987. Pág. 5). Esse existencialismo é uma versão daquele já antes elaborado por mestres como Kierkegaard, Heidegger e Jaspers. Segundo o próprio Sartre, o que há em comum entre estes e o seu é o postulado central. Tanto o existencialismo cristão quanto o existencialismo ateísta entendem que é necessário que a reflexão parta da subjetividade.
O destaque ateísta se apresenta na declaração de que “se Deus não existe, há ao menos um ser no qual a existência precede a essência”: o homem (SARTRE, 1987. Pág. 5). Isso significa que antes de uma definição de si mesmo, o homem precisa existir. Este pressuposto lança por terra a constatação de que existe uma natureza humana já pronta, universal, pela qual se possa, preconceituosamente, estabelecer o que é o homem. Antes, vale a analogia de que é caminhando que se constrói o caminho. Antes do homem que se constrói, só há o nada. Como diz Sartre, “o homem é tão somente, não apenas como ele se concebe, mas também como ele se quer”. Ou seja, a definição, se é que pode haver, é sempre posterior ao existir. Essa compreensão é bem coerente com uma compreensão dialética. Significa dizer que a definição é sempre um processo inacabado; o que o homem é hoje, pode não o ser amanhã. A porta está sempre aberta para novas possibilidades.
Essa abordagem deixa bem clara a responsabilidade do homem sobre si mesmo. Desde que não existe um deus, o homem está só. Desde que não houve uma criação divina, o homem está só e se cria a todo instante. Nesta autocriação, o homem elabora também todo o seu código moral. Eis assim a plataforma de onde o homem é o único responsável por suas escolhas. Não há espaço para culpar a qualquer outro ser pelo que o homem se torna.
Neste ponto, entende-se que uma conceituação de subjetividade faz-se extremamente necessária. Sartre diz: “Assim, quando dizemos que o homem é responsável por si mesmo, não queremos dizer que o homem é apenas responsável pela sua estrita individualidade, mas que ele é responsável por todos os homens” (SARTRE, 1987. Pág. 6). É nesta cláusula da responsabilidade “por todos os homens” que está o cerne da subjetividade existencialista de Sartre. Esta fala da “impossibilidade em que o homem se encontra de transpor os limites da subjetividade humana” (SARTRE, 1987. Pág. 6). Cada um de nós se escolhe, porém o mais importante é que, ao escolher-se, o indivíduo escolhe todos os homens. Toda escolha de se construir é uma escolha de construção da humanidade. Toda escolha de autoconstrução é sempre uma escolha moral, pois que se entranha a valoração do nosso ato construtivo de nós mesmos. Quando o indivíduo decide arrasta consigo toda a humanidade.
Sartre usa o termo angústia para descrever a consciência da própria liberdade. Ora, não temos um deus em quem confiar. Estamos livres e sozinhos. Não há que esperar uma justificativa para nossas ações ou para nos indicar o caminho certo. Nós mesmos somos os nossos próprios juizes. Não há moral absoluta que nos dê, por sua vez, certezas irrevogáveis. Em face disso, Sartre usa três palavras: “angústia, desamparo, desespero” (SARTRE, 1987. Pág. 7). O raciocínio sartreano parece processar-se semelhantemente ao raciocínio do imperativo categórico kantiano: um valor universal aplicado ao agir humano. Mas há uma distinção curiosa. Enquanto o imperativo categórico é um resultado da razão pura, sendo por sua vez um ideal a ser vivido pelo homem, o valor universal da angústia sartreana é patente quer o homem mascare ou não a sua existência. Sartre diz que o homem é “também um legislador que escolhe simultaneamente a si mesmo e a humanidade inteira, não consegue escapar ao sentimento de sua total e profunda responsabilidade. É fato que muitas pessoas não sentem ansiedade, porém nós estamos convictos de que essas pessoas mascaram a ansiedade perante si mesmas, evitam encará-la; certamente muitos pensam que, ao agir, estão apenas engajando a si próprios e, quando se lhes pergunta: mas se todos fizessem o mesmo?, eles encolhem os ombros e respondem: nem todos fazem o mesmo. Porém, na verdade, devemos sempre perguntar-nos: o que aconteceria se todo mundo fizesse como nós? E não podemos escapar a essa pergunta inquietante a não ser através de uma espécie de má fé. Aquele que mente e que se desculpa dizendo: nem todo mundo faz o mesmo, é alguém que não está em paz com sua consciência, pois o fato de mentir implica um valor universal atribuído à mentira. Mesmo quando ele se disfarça, a angústia aparece” (SARTRE, 1987. Pág. 7). Distingue-se assim que, enquanto o homem pode escapar do imperativo categórico, não o obedecendo, da responsabilidade por toda a humanidade ninguém escapa. Esta responsabilidade é irredutivelmente categórica e geradora de angústia. E é justamente essa angústia que leva o homem a engajamentos tais que ocasionam transformações na humanidade. Responsabilizar a hereditariedade, o meio-ambiente, ou outras quaisquer realidades para livrar o homem de sua angústia é pura perda de tempo. Para Sartre, não há fatores determinantes que nos isente de nossa responsabilidade ante nossas decisões e escolhas. Estamos condenados à liberdade.

BIBLIOGRAFIA
SARTRE, Jean Paul. O existencialismo humano. Tradução de Rita Correia Guedes – OS PENSADORES. 3ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
PORQUE A IGREJA PRECISA DE TEÓLOGOS