A teoria geocêntrica entrou em crise com as idéias do Renascimento. A descoberta de que a Terra não era o centro do universo causou um impacto considerável.
É impressionante como idéias de hoje e de ontem já foram discutidas por teóricos, centenas de anos atrás. Tal é o caso do geocentrismo. Já na antiguidade, o geocentrismo era pensado por Aristarco de Samos (c. 310 – 230 a. C.). Este teórico, aplicando a geometria pura desenvolvida por Euclides a cálculos astronômicos, chegou a conclusões fantásticas em relação ao Sistema Solar. Errou apenas em considerações importantes por não dispor de instrumentos de medição de ângulos precisos. O resultado de suas descobertas concebeu a Terra como astronomicamente insignificante. A dedução de que a Terra gira em torno do Sol antecipou em séculos a concepção moderna do heliocentrismo. Aristarco é considerado o "Copérnico da Antiguidade".
No século II d. C., Cláudio Ptolomeu consagra o erro do geocentrismo, valendo-se de conclusões aristotélicas. O heliocentrismo de Aristarco é então praticamente esquecido.
Estes conhecimentos sobre a história das concepções a respeito do nosso Sistema Solar são suficientes para se conceber a dimensão do impacto que a volta embasada do heliocentrismo causou. Uma suposta verdade com mais de dez séculos de aceitação, defendida, inclusive, por uma instituição (Igreja Católica) que dogmatizava a sua verdade, não seria descartada tão rapidamente.
No final da Idade Média, Copérnico (1473 – 1543) chega à conclusão, também antevista por Nicolau de Cusa, de que o Sol encontra-se no centro das esferas celestes, e que a Terra gira em torno daquela estrela. Pode-se imaginar a reviravolta na compreensão milenar do geocentrismo. Na verdade, a revolução atingiu não somente a astronomia, como também a religião, a política e a moral. Atingiu a astronomia em virtude de reformular toda uma visão do espaço. Passou a ventilar até mesmo a possibilidade de que houvesse outras realidades celestes em torno das quais o nosso sistema estivesse também em órbita. Na religião, o impacto deveu-se ao questionamento da concepção sustentada pela Igreja que usava a própria Bíblia para provar o geocentrismo. Ora, se o que a Bíblia diz está sendo questionado, tudo o mais que a mesma apresenta pode ser passível de verificação. Na mente de religiosos fundamentalistas isso é impossível. Era afetar a própria autoridade da Igreja, que defendia os dogmas religiosos. Na verdade, quem mais recebeu o impacto foi a Igreja. Para ela, o geocentrismo era uma verdade incontestável que jamais deveria ser questionada.
Mesmo acontecendo entraves para os sistemas ideológicos dominantes, essa e outras realidades do passado contribuíram para muitos avanços do pensamento humano.
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