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segunda-feira, 13 de julho de 2009

MUDANÇAS QUE FAZEM DIFERENÇA

 

            A teoria geocêntrica entrou em crise com as idéias do Renascimento. A descoberta de que a Terra não era o centro do universo causou um impacto considerável.

É impressionante como idéias de hoje e de ontem já foram discutidas por teóricos, centenas de anos atrás. Tal é o caso do geocentrismo. Já na antiguidade, o geocentrismo era pensado por Aristarco de Samos (c. 310 – 230 a. C.). Este teórico, aplicando a geometria pura desenvolvida por Euclides a cálculos astronômicos, chegou a conclusões fantásticas em relação ao Sistema Solar. Errou apenas em considerações importantes por não dispor de instrumentos de medição de ângulos precisos. O resultado de suas descobertas concebeu a Terra como astronomicamente insignificante. A dedução de que a Terra gira em torno do Sol antecipou em séculos a concepção moderna do heliocentrismo. Aristarco é considerado o "Copérnico da Antiguidade".

No século II d. C., Cláudio Ptolomeu consagra o erro do geocentrismo, valendo-se de conclusões aristotélicas. O heliocentrismo de Aristarco é então praticamente esquecido.

Estes conhecimentos sobre a história das concepções a respeito do nosso Sistema Solar são suficientes para se conceber a dimensão do impacto que a volta embasada do heliocentrismo causou. Uma suposta verdade com mais de dez séculos de aceitação, defendida, inclusive, por uma instituição (Igreja Católica) que dogmatizava a sua verdade, não seria descartada tão rapidamente.

No final da Idade Média, Copérnico (1473 – 1543) chega à conclusão, também antevista por Nicolau de Cusa, de que o Sol encontra-se no centro das esferas celestes, e que a Terra gira em torno daquela estrela. Pode-se imaginar a reviravolta na compreensão milenar do geocentrismo. Na verdade, a revolução atingiu não somente a astronomia, como também a religião, a política e a moral. Atingiu a astronomia em virtude de reformular toda uma visão do espaço. Passou a ventilar até mesmo a possibilidade de que houvesse outras realidades celestes em torno das quais o nosso sistema estivesse também em órbita. Na religião, o impacto deveu-se ao questionamento da concepção sustentada pela Igreja que usava a própria Bíblia para provar o geocentrismo. Ora, se o que a Bíblia diz está sendo questionado, tudo o mais que a mesma apresenta pode ser passível de verificação. Na mente de religiosos fundamentalistas isso é impossível. Era afetar a própria autoridade da Igreja, que defendia os dogmas religiosos. Na verdade, quem mais recebeu o impacto foi a Igreja. Para ela, o geocentrismo era uma verdade incontestável que jamais deveria ser questionada.

Mesmo acontecendo entraves para os sistemas ideológicos dominantes, essa e outras realidades do passado contribuíram para muitos avanços do pensamento humano.

Na Idade Média enxerga-se uma ênfase esmerada sobre temas que não têm o homem como centro. Deus é o centro de tudo. Isto colocado supostamente pela Igreja, de modo a lhe favorecer em seus interesses. Tudo o que se refere a Deus tem centralidade: Santos, Igreja, Textos Sagrados, Papa, a Terra Santa, etc.. O homem é visto como uma escória. Talvez, se Pelágio tivesse vencido a disputa contra Agostinho sobre a natureza humana, a Idade Média teria tido outro caminho na sua concepção humanista. No entanto, Agostinho, com sua concepção de natureza pecaminosa herdada de Adão e com as considerações e ramificações desta concepção básica, saiu vencedor e a Igreja consagrou o modelo teológico de homem perdido, carente de salvação e de ajuda da própria Igreja. Na verdade o homem era visto como um ser decadente.
Com o redescobrimento dos conceitos da antiguidade grego-latina, o homem viu a sua dignidade restaurada. O homem assumiu o centro das questões e adquiriu liberdade para pensar e mesmo contrapor-se às concepções vigentes. Nesse contexto do Renascimento, o Humanismo significa, pois, uma revolução contra as concepções religiosas teocêntricas. O homem passou a considerar-se o centro do mundo, quase que se esquecendo dos seus limites.
Willians Moreira

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