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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

CONTINUAÇÃO DO TEMA: A CONSCIÊNCIA RELIGIOSA DE SÓCRATES


A obediência de Sócrates e a obediência de Jesus

Levando-se em consideração o texto sobre a consciência religiosa de Sócrates, a comparação entre aquele filósofo e Jesus é viável em face de que a mesma vem ratificar a imagem socrática, ou seja, um homem religioso. Aliás, comparações entre esses dois homens são encontradas em outras publicações, tanto entre filósofos como também entre teólogos.
Gaarder intitula uma passagem do seu comentário sobre Sócrates de “Uma Voz Divina”. A certa altura do texto Gaarder diz:

Ao traçar esses paralelos entre Jesus Cristo e Sócrates, não estou querendo colocar um sinal de igualdade entre os dois. Quero dizer apenas que ambos tinham uma mensagem a transmitir e que esta mensagem estava indissoluvelmente associada à sua coragem pessoal. (GAADER, 1996, págs. 81 e 82).

Mais razoável seria dizer que a mensagem de ambos estava associada a uma consciência religiosa de missão que gerava neles coragem. Mas não é de estranhar este modo de pensar de Gaarder. O autor faz essa comparação entre os dois mestres, reconhecendo o valor de ambos para a humanidade. No contexto desta citação, Gaarder afirma que ambos acreditavam falar em nome de uma coisa que era maior do que eles mesmos. O problema de Gaarder é que não identifica objetivamente esta “coisa” que era maior do que eles. Por que razão este autor se furta a uma possível identificação desta “coisa”? Fica a interrogação. Saliente-se que para os dois mestres não era uma “coisa” que fundamentava a missão e a ação de ambos. Era, na verdade, alguém. E, pelo que se pode interpretar, era alguém bastante pessoal com quem podia se falar, como também alguém a quem se obedecia.

Mestres diferentes – Ensinos diferentes
Releva-se aqui um questionamento pertinente à discussão proposta: sendo a missão de Sócrates religiosa, o que impediu aos seus discípulos de darem direcionamento a sua mensagem semelhante àquele que foi dado pelos discípulos de Jesus à mensagem do mestre judeu? Algumas hipóteses que explicam os caminhos diferentes assumidos pelos ensinamentos de ambos os mestres são possíveis. Basta que se leve em consideração alguns contextos de ambas as partes.
De imediato, entende-se que natureza da religião judaica diferia da natureza da religião grega. Um dos aspectos da natureza da religião judaica era o profetismo. Este detinha em suas linhas a proclamação de um messias salvador de Israel. Por sua vez, na religião grega não consta nenhuma referência ao fenômeno profético-messiânico nos moldes judaicos. Partindo-se desta premissa, a diferença de natureza entre as religiões grega e judaica, entende-se perfeitamente o encaminhamento religioso dado ao ensino de Jesus por seus discípulos, de vez que o próprio mestre judeu entendeu-se como cumprimento profético das previsões sobre o messias salvador. Por sua vez, Sócrates, em nenhum momento atribuiu-se profecia pretérita, no sentido vaticinatório, para fundamentar a sua atividade. O máximo que ele fez foi anunciar que falava por ordem do deus. Neste sentido, ele era profeta tanto quanto Jesus, embora não aplique a si mesmo a prerrogativa de salvador no sentido jesuítico. De sorte que, pelo dado particular da natureza de ambas as religiões, judaica e grega, já se dispõe de uma via plausível de solução para o questionamento aqui proposto.
Concomitantemente, as mensagens socrática e jesuítica são de naturezas opostas entre si. A mensagem socrática é predominantemente humanística, mesmo que ordenada pelo deus. A mensagem de Jesus é teísta. Os próprios contemporâneos de Jesus compreenderam quando o mestre nazareno fez-se a si mesmo “Deus”. (BÍBLIA – NT, 1982, pág. 111 – João 5: 18; 21:28) Pelo menos é esta indução que o texto traz e que os demais escritos do Novo Testamento atestam. Se bem que há controvérsias. Sócrates não teve a mesma pretensão, mesmo tendo sido interpretado como pregando novos deuses. Enquanto a ação de Jesus conclamava os ouvintes para um envolvimento com a dimensão do “espiritual”, celestial (não sem envolvimento com o humano), a ação de Sócrates conclamava os seus ouvintes para uma reflexão dimensionalmente terrena. O máximo que Sócrates disse foi que ele era um homem dado a Atenas pelo deus. Releva-se a esta altura a abordagem de Marilena Chauí:

[...] a imagem de santo não é muito adequada à figura de Sócrates, ainda que, pelo daímon (e Cristo pelo Pai e Espírito Santo), se considerasse investido de uma missão divina e que, segundo alguns relatos, levasse vida ascética, simples e frugal, como a que os Evangelhos atribuem a Jesus [...], e atormentasse as pessoas com perguntas que as faziam duvidar de valores e idéias que haviam tido como certos e verdadeiros. (CHAUÍ, 1994, pág.136 – Grifo nosso).

Realmente, acompanhando Sócrates por todos os testemunhos dos seus discípulos, não se forma a imagem de um santo, mesmo a sua vida sendo de uma simplicidade e frugalidade superlativas. Observe-se, no entanto, que a própria Chauí admite que o mestre ateniense entendia que a sua missão era divina, portanto, religiosa. Ou será que a análise da vida de Sócrates está tão condicionada por fatores da visão filosófica que não se permite vê-lo daquela outra forma? Para uma mente livre, não há objeções a tal. Daí encontrar-se um Erasmo de Rotterdam[1] referenciando Sócrates como santo, embora se extrapolando para um ponto inadmissível.
As diferenças entre os contextos históricos da Palestina e da Grécia socrática também são patentes e ratificam esta abordagem. O contexto histórico da Palestina contribuiu também para um direcionamento religioso da mensagem do mestre judeu, como também, em alguns momentos, para o campo político. A Palestina estava sob o domínio romano e ansiava por libertar-se daquele império. Nada impedia que Jesus fosse visto como mais um “libertador” ante a opressão romana. Muitos se levantaram naqueles dias incitando as massas a uma insurreição contra a dominação romana. Tanto que alguns dos seus discípulos o entenderam como alguém destinado a comandar uma revolução política. Para muitos intérpretes, o próprio Judas o traiu, objetivando levá-lo a uma reação revolucionária. Decorre-se que a libertação proclamada por Jesus, mal entendida pelos discípulos ao princípio, era libertação que extrapolava a dimensão política. Poderia até atingir esta dimensão humana, mas seria como decorrência de uma transformação da existência no aspecto da subjetividade.
O contexto histórico da Grécia socrática não era pintado pelas mesmas cores políticas da Palestina de Jesus. Mais especificamente, a Atenas socrática encontrava-se ainda dona de si mesma. Segundo os historiadores, transcorria ainda o período Clássico da filosofia (séc. V a. C. ao IV a. C.). As reformas de Clístenes e, em seguida o governo de Péricles colocaram Atenas à frente de todas as outras cidades gregas. A democracia desenvolveu-se consideravelmente e o império marítimo ateniense adquiriu vulto espantoso. Justamente o Pireu, para onde Sócrates se encaminhava objetivando fazer suas orações, era o centro convergente de toda uma cultura riquíssima que influenciou um desenvolvimento urbano, intelectual e artístico. Nada, pois, levava Sócrates a se proclamar como libertador político. Tratava-se antes de um homem questionador de uma cultura tão rica, porém, na visão do filósofo, comprometida com certos vícios. Tinha ele seguidores? Sem dúvida! Mas jamais se lê de discípulo seu entendo-o como chefe de movimento de libertação política. Sua ação foi ordenada pelo deus, como assim entendia, mas não havia no seu ensinamento indução de movimento político-libertador caracterizado. O seu deus estava mesmo era interessado em reformas que mudassem a compreensão de fatores que condicionam a existência em seu aspecto interior, do que Jesus não se distancia também. Com esta reforma Sócrates concordava, visto prescrever a “cura da alma”. Vale lembrar as palavras de Marilena Chauí sobre Sócrates: “[...] e atormentasse as pessoas com perguntas que as faziam duvidar de valores e idéias que haviam tido como certos e verdadeiros.” (CHAUÍ, 1994, pág.136) Era uma cura da alma em relação a si mesma, numa dimensão horizontal, humana. Jesus por sua vez, encaminhava o seu ensino não só na dimensão horizontal, mas também na dimensão vertical, e este caracterizamente foi o seu caminho de ação: uma cura da alma, para alinhar os homens com Deus.
De acréscimo, considere-se que os discípulos de cada mestre deram interpretação à mensagem do seu mestre totalmente aplicada aos seus momentos histórico-culturais, condicionados que foram por fatores que já não eram do próprio contexto do mestre. Toda uma bagagem existencial também é acrescida depois de algum tempo que os discípulos não estão mais com os seus mestres. Isso é comum acontecer na história, e não seria diferente com os discípulos de Sócrates e os de Jesus. Considere-se ainda que de discípulo para discípulo também há um “separador de águas”, nos termos acima colocados, que vai direcionar a apresentação do depoimento sobre o mestre. Sem falar de estilo literário, de enfoques principais para cada um, de realidades inconscientes e de outras tantas realidades que vão interagir, formando-se, em muitos casos, imagens do mestre que vão suscitar os chamados “Problemas históricos”. Pode-se acreditar que estes tipos de problemas resultam desta interpretação condicionada da imagem do mestre em foco.
De um modo ou de outro, o fato é que os ensinamentos de Sócrates e os de Jesus se prestam a orientar a vida dos humanos. A realidade agravante é que, dos dois mestres, o que mais se tem prestado ao controle e exploração dos humanos é “Jesus”, reinterpretado como vem sendo através dos séculos. Dificilmente Sócrates foi ou é usado para “dominar” as massas. Jesus já o foi inúmeras vezes. Embora, em si mesmos, de modo integral, estes homens estejam isentos de qualquer repulsa ao seu caráter.
Pode-se concluir que ambos os mestres entendiam a sua missão como religiosa. No entanto, em termos de ação, foram por caminhos diferentes: Jesus teve uma ação religiosa; enquanto Sócrates teve uma ação filosófica. Frise-se, no entanto, que esta diferença não é um mero detalhe. Trata-se antes de um “divisor de águas”. Na verdade é o que explica decisivamente os caminhos diversos seguidos pelos ensinamentos de ambos.
Em face desta abordagem, e aqui relevando Sócrates e Jesus, sugere-se a lembrança das palavras de Nietzsche quando comenta a realidade de pessoas que se consideram investidas de imperativo divino:

Quando alguém tem deveres sagrados, como por exemplo tornar os homens melhores, salvá-los, redimi-los, quando se traz a divindade no peito, quando se é o porta-voz dos imperativos supraterrenos, uma tal missão coloca-o já acima de qualquer avaliação intelectual – já não é ele próprio sagrado por uma tal tarefa, já não é ele o próprio tipo de uma hierarquia superior? (NIETZSCHE, 2001, pág.46).

O Anticristo disse estas palavras referindo-se aos teólogos cristãos. No contexto de tal comentário está patente uma crítica a esses religiosos, que faz sentido analisá-la, de vez que muito do que é dito é verdade. Quanto a Sócrates, não seria possível direcionar-lhe tais críticas, pois que sua atividade em nada se caracteriza pelas mesmas realidades que maculam uma grande maioria de profissionais da religião.
            A proposta de considerar a consciência religiosa de Sócrates no sentido de que o mestre ateniense entendia a sua missão como religiosa, embora com ação filosófica, foi lançada. Sem dúvida que os depoimentos dos seus discípulos são indubitáveis quanto a traçarem, também, uma imagem socrática no sentido religioso.
            Tanto os discípulos de Sócrates, como também os vários autores que foram citados apresentam a visão de que Sócrates nutria a consciência de uma missão ordenada a si por um deus.
            Toda a atividade de Sócrates, oferecendo sacrifícios, orando e referindo-se a uma experiência com o oráculo divino que lhe transmitiu a palavra de Apolo, como também a sua consciência de ter sido dado a Atenas pelo deus, reportam a reflexão para a dimensão da experiência religiosa. Este fato não descaracteriza em hipótese alguma a ação filosófica de Sócrates. Independentemente do que seja dito por qualquer, para Sócrates o fundamento de sua ação filosófica estava no serviço que ele prestava ao deus. E, como ele mesmo dizia, mas valia servir ao deus do que aos homens.
Ratifica-se assim, um Sócrates religioso que, na sua ação filosófica (e esta por demais enfatizada), não se furtou a uma experiência religiosa, experiência esta passível de acontecer na existência humana. Mas que, no caso de Sócrates, causou uma grande diferença a ponto de torná-lo imortal.

BIBLIOGRAFIA

BARSA, Nova Enciclopédia. – São Paulo: Encyclopaedia Britânica do Brasil Puclicações, 1999. Vol. 13. 506 págs.
BERGE, Damião. O lógos heraclítico: introdução ao estudo dos fragmentos. Rio de Janeiro. Instituto Nacional do Livro, 1996.
CHAUÍ, Marilena de Souza. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a aristóteles. Vol. I. 3ª edição. São Paulo. Brasiliense, 1994.
GIBELLINI, Rosino. A teologia do século XX. São Paulo. Edições Loyola. 1998. Págs. 591.
JAEGER, Werner Wilhelm. Paidéia: a formação do homem grego. 3ª edição. São Paulo. Martins Fontes. 1994. 1413 págs.
O’GRADY, Joan. Satã, o príncipe das trevas. São Paulo. Editora Mercuryo Ltda, 1991. 189 págs.
PESSANHA, José Américo Motta (Consultoria). Vida e obra (de Sócrates). In: Os pensadores: Sócrates. São Paulo. Editora Nova Cultural, 2000. 287 págs.
PLATÃO. A república. São Paulo: Editora Martin Claret. Coleção a obra prima de cada autor. 2000.
PLATÃO. A apologia de Sócrates. In: Os pensadores: Sócrates. São Paulo. Editora Nova Cultura, 2000. 287 págs.
PLAMPIN, Richard T. Jeremias: Seu ministério, Sua mensagem. Rio de Janeiro. Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1987. 193 págs.
TOVAR Antonio. Vida de sócrates. 3ª edição. Madrid (Espanha). Editora Revista de Occidente, S. A. 1966. 498 págs.
XENOFONTE. Ditos e feitos memoráveis de Sócrates. In: Os pensadores: Sócrates. São Paulo. Editora Nova Cultura, 2000. 287 págs.

Willians Moreira Damasceno


[1] Embora o cristianismo tenha esteriotipado Sócrates como mártir pré-cristão; e o humanista Erasmo de Roterdam tenha orado ao “Santo Sócrates”: “Sancte Sócrates, ora pro nobis!"

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A CONSCIÊNCIA RELIGIOSA DE SÓCRATES


Sócrates é uma dessas figuras imortais da História que se converteram em símbolo. Do homem de carne e osso e do cidadão ateniense nascido em 469 a. C. poucos traços ficaram gravados na história da humanidade, quando esta o elevou à categoria de um dos seus poucos “representantes”. (JAEGER, 1994, pág. 493).

A grande maioria dos comentários sobre Sócrates não se dá ao trabalho de abordar, especifica e substanciosamente, a sua consciência religiosa ou a sua certeza de estar servindo a um deus. Encontram-se algumas linhas, aqui e acolá, considerando o assunto, mas de modo lacônico. Ventila-se, predominantemente, o Sócrates filósofo. A filosofia socrática como cumprimento de uma missão religiosa não é expressivamente comentada. Seria este fato indício de preconceito por parte dos filósofos contra a religião? Certo que não. Até porque a própria filosofia reflete seriamente sobre o fenômeno religioso. Considere-se que Sócrates, em alguns momentos, elabora um discurso com linguagem religiosa como instrumento retórico para alcançar um fim filosófico? Por que não seria possível? Fato é que tanto Platão como Xenofonte apresentam um Sócrates inteiramente compromissado com a religião.
Cabe assim discutir esta questão de modo direto, procurando-se um melhor direcionamento sobre este assunto.

SÓCRATES E SUAS VÁRIAS VERSÕES
O debate sobre qual versão de Sócrates realmente merece crédito já foi bastante acirrado. O “Problema socrático” já se encontra, de certo modo, resolvido com o consenso de um “Sócrates provável”, resultado dos vários testemunhos apresentados por seus seguidores.
Repassar algumas versões, direcionando-as para o foco da discussão proposta, alicerça a tese aqui apresentada.
Platão apresenta uma versão de um Sócrates que se utiliza da linguagem religiosa no seu discurso, ou, no mínimo, uma versão de um mestre que tem uma consciência de estar cumprindo uma missão a mandado do deus de Delfos. Em muitas partes da “Apologia de Sócrates”, expressões são colocadas nos lábios do filósofo que vinculam a sua ação a uma missão religiosa. No texto são apresentadas as acusações que levam Sócrates a juízo. Quais sejam: A acusação de desvirtuar a juventude e a “de não acreditar nos deuses em que o povo acredita, e sim em outras divindades novas”. (PLATÃO, 2000, pág. 48). O que Sócrates faz em todo o seu discurso é mostrar que não prejudicou a juventude e não foi sacrílego em relação aos deuses do Estado.
Na versão veiculada por Aristófanes, chamada “As Nuvens”, é apresentada uma caricatura de Sócrates antes mesmo de o mestre ateniense desempenhar a atividade missionária de que se julgou incumbido por Apolo. As palavras de Pessanha ressaltam este detalhe:

O depoimento de Aristófanes sobre Sócrates possui assim – para muitos historiadores – certo fundamento, sobretudo em relação ao Sócrates que ainda não havia sido tocado pela palavra do oráculo. Mesmo porque o efeito de comicidade a que visava Aristófanes não teria nenhum resultado se a caricatura traçada não apresentasse, aos olhos do público, alguma semelhança com o modelo real. (PESSANHA, 2000, pág. 46).

A expressão “ainda não havia sido tocado pela palavra do oráculo”, é pertinente, pois, mesmo que despretensiosamente, dirige a discussão para o fator religioso na vida de Sócrates. As palavras de Pessanha já dão um indício de que se concebe um caráter religioso na pessoa do mestre ateniense.
Outro texto chave para esta discussão é “Ditos e feitos memoráveis de Sócrates”. No primeiro capítulo do livro I, Xenofonte, sempre apresentando uma imagem hiperbólica de seu mestre, esboça a acusação elaborada contra o filósofo de “não reverenciar os deuses que cultua o Estado e introduzir extravagâncias demoníacas.” (XENOFONTE, 2000, pág. 79). A defesa do autor diz que Sócrates “fazia sacrifícios frequentes às abertas, ora em casa, ora nos altares públicos...” além de recorrer à arte divinatória. Xenofonte acrescenta que “Sócrates falava o que sentia, dizendo-se inspirado por um demônio.” (XENOFONTE, 2000, pág. 79). Não se entendendo demônio neste contexto como se entende no contexto do cristianismo. No cristianismo, demônio é uma entidade espiritual contraposta à Trindade divina, instigadora de toda sorte de males e desobediência ao deus cristão. (O’GRADY, 1991, págs. 23 - 32). No caso de Sócrates a conceituação é diametralmente oposta. Demônio é identificado com uma “espécie de voz interior”. (PESSANHA, 2000, pág. 25). Neste caso não indicando qualquer semelhança com o demônio do cristianismo. No caso de Sócrates, pode-se entender como a voz da consciência. A dúvida se instala: um homem como Sócrates, não saberia distinguir entre o que ele chamava de “demônio” e a voz de sua consciência? Ou ambas as realidades seriam sinonímicas?
No terceiro capítulo do mesmo livro, Xenofonte retoma a temática da religião em Sócrates, dizendo: “No que diz respeito aos deuses, agia e falava de acordo com as respostas que dá a Pítia sobre como deve agir em relação aos sacrifícios.” (XENOFONTE, 2000, pág. 99). Pode-se entender que a indução do texto está na direção de que seu mestre era alguém compromissado com o Oráculo. O autor, engajado numa defesa de que seu mestre era religioso sem a mácula apresentada como acusação, diz que Sócrates “louvava este verso: ‘Ofertai aos deuses imortais conforme vossas posses’.” (XENOFONTE, 2000, pág. 100). Encontra-se aqui um religioso dado às atividades cúlticas com seus rituais litúrgicos. É a imagem de um religioso que, tanto comunitária, quanto individualmente, cultua o seu deus. Portanto, esta é a imagem de um Sócrates religioso, encontrada em Xenofonte.
Tovar enfoca que a imagem socrática veiculada por Xenofonte, admitida no século XVIII, não consegue o mesmo efeito de testemunho nos dias atuais. (TOVAR, 1966, pág. 31). Mesmo nesta condição, considerando que a imagem religiosa de Sócrates passada por Xenofonte concilia-se com a imagem socrática de Platão, não há porque desconsiderá-la.
Outros depoimentos existem, como o de Aristóteles, um de Diógenes Laércio (século III d. C), já bem tardiamente. (PESSANHA, 2000, pág. 16). Pessanha ressalva que a interpretação de Aristóteles sobre Sócrates “é vista com reservas pelos historiadores, pois o Estagirita sempre ‘aristoteliza’ o pensamento de seus antecessores”. (PESSANHA, 2000, pág. 16). Mas quem poderia ser absoluto em dizer que Platão não platoniza Sócrates?
Marilena Chauí, tratando do “Problema Sócrates”, é expressiva ao apresentar, mesmo que sucintamente, como a querela se processou e a chegada a uma possível síntese: “um Sócrates provável”. Textualmente, Chauí diz:

Finalmente, os estudos mais recentes desistiram de procurar e encontrar o “verdadeiro” Sócrates ou o Sócrates “autêntico” e se contentam com um Sócrates provável, resultado da combinação dos diferentes testemunhos. (CHAUÍ, 1994, pág. 139)

Mesmo assim, Chauí diz literalmente que a fonte mais respeitável é Platão. Afirmar Platão como fonte mais respeitável não é algo sem o devido fundamento. Segundo Antonio Tovar, “a revalidação de Platão como fonte histórica é obra do grande Schleiermacher.” (TOVAR, 1966, pág. 31). É interessante esta observação, pois que este mesmo Schleiermacher (1768-1834), teólogo e filósofo protestante, considerado o fundador da hermenêutica moderna, contribuiu também para a discussão sobre o problema do “Jesus histórico”. (GIBELLINI, 1998, pág. 57 - 70). Problema este que já passou por semelhantes entraves aos do “Problema socrático” e que o consenso teológico aponta também para um “Jesus provável”.
Assim sendo, embora sucintamente, as versões socráticas acima apresentadas são suficientes para o enfoque deste trabalho, de vez que outras a mais não acrescentariam material que alterasse a conclusão.

A consciência de Sócrates quanto a sua missão divina

Pode-se falar sobre uma consciência de Sócrates no sentido de sua missão realizar-se por indução divina?
O livro “A República” é iniciado com Sócrates dizendo: “fui ontem ao Pireu com Glauco [...] com o objetivo de fazer minhas orações à deusa [...]”[1]. (PLATÃO, 2000, pág. 11). Sócrates era um homem de fazer orações. Mesmo que o mero fato de fazer oração não indique que alguém seja devidamente compromissado com a divindade, no caso de Sócrates, essa é uma informação importante, pois que o revela como alguém que levava a sério a sua comunicação com uma divindade. Não há como se pensar em Sócrates como um inconseqüente; como alguém que praticasse ação qualquer sem a devida reflexão. A própria construção do texto leva à reflexão. “Com o objetivo de fazer minhas orações à deusa.” Ora, de antemão se coloca que a ida possuía um objetivo. Não se conceberia Sócrates como um homem que andasse por aí aleatoriamente. Não era uma ida qualquer ao Pireu. Havia um objetivo específico. O objetivo era orar. É sugestivo para a reflexão a referência ao pronome possessivo “minhas” quando diz: “minhas orações”. Traz a conotação de que as orações eram tidas pelo filósofo como algo particular mesmo. Um momento de comunhão entre ele e sua deusa. Afinal, é ele mesmo que aconselha que se busque o parecer divino sobre questões de importância para as quais os seus contemporâneos não tinham respostas em si mesmos.
Na “Apologia de Sócrates”, o servo do deus de Delfos, (o filósofo assim se entende) é apresentado como alguém completamente compromissado com a missão de filosofar por obediência ao ser divino. De início, ressalta-se a acusação que é impetrada contra Sócrates por seus inimigos: Meleto e Anito. A acusação: “Sócrates é réu de pesquisar sem discrição o que existe sob a terra e nos céus. De fazer que prevaleça a razão mais fraca e de ensinar aos outros o mesmo comportamento.” (Platão, 2000, pág. 42). Percebe-se um sentido vago nesta acusação, embora a mesma tenha tomado algum tempo da defesa do mestre. A outra acusação apresentada é: “Sócrates é réu de corromper os jovens e de não acreditar nos deuses em que o povo acredita, e, sim em outras divindades novas”. (Ibid, pág. 48). Esta segunda acusação é, na verdade, a que vai mexer com o raciocínio do mestre ateniense. A referência a uma não crença nos deuses conhecidos e a apresentação de outras divindades são ítens por demais valiosos, pois que indicam o tom religioso do processo lançado sobre Sócrates. Haveria como não se chegar a esta constatação? Pois é justamente desta acusação que Sócrates vai se defender, não somente isentando-se de ser corruptor da juventude, como também mostrando que é tão bom religioso quanto aquele que a divindade estima.
Empenhando-se em sua defesa, Sócrates, em várias partes do texto, é apresentado como consciente de sua missão por obediência à divindade. Sócrates chega mesmo a citar o testemunho do deus Apolo: “Para testemunhar a minha ciência... vos trarei o deus de Delfos.” (Platão, 2000, pág. 44). O mestre passa então a fazer referência a Querefonte[2], seu amigo de infância, o qual interrogara ao Oráculo de Delfos sobre quem era mais sábio do que Sócrates. A resposta do Oráculo foi de que não havia ninguém mais sábio do que ele. O testemunho reclamado é veiculado pela Pítia, sacerdotisa do tempo de Delfos. E em segundo plano pelo amigo Querefonte. Sócrates mesmo não foi diretamente abordado. Mas isso não anula o mérito da palavra ser divina. Aconteceram os testemunhos da Pítia e do amigo, testemunhos dignos de confiança para o filósofo. Em obediência, o filósofo parte para verificar a sabedoria dos seus contemporâneos.
Na verdade, antes de qualquer ação missionária, Sócrates conjeturou sobre as palavras do deus. Prática bem comum na vida daqueles que passam por uma experiência religiosa do tipo aqui abordado. O texto abaixo expressa o questionamento de Sócrates:

Que quererá dizer o deus? Que sentido oculto colocou na resposta? Eu não tenho consciência de ser nem muito sábio nem pouco; que quererá ele, então, significar declarando-me o mais sábio? Logicamente não está mentindo, porque isso lhe é impossível. (Platão, 2000, pág. 44).

Primeiro, Sócrates parece entender que o deus não é superficial. Há mais do que o evidente em suas palavras. Estaria como que reconhecendo a profundidade que existe na palavra divina. Em segundo plano, ele reconhece a sua relativa ignorância. Por fim, entende que, dada a impossibilidade de se projetar mentira dos lábios divinos, a conclusão é de que a sabedoria está com ele. Mas o que significa isto? Que sabedoria será esta? É interessante observar que esta visão da divindade, entendida por Sócrates, choca-se de frente com a concepção divino-mitológica dos gregos. As divindades gregas eram passíveis de erros à semelhança dos homens. No entanto, a visão de Sócrates sobre o deus de Delfos, era de um ser que, além de profundo em seus significados, não pode mentir. Disto pode-se deduzir que o mestre teologava de maneira bem oposta aos seus contemporâneos. O que poderia indicar, para os seus acusadores, a introdução de novas divindades. Quando, na verdade, era uma concepção teológica apenas divergente da concebida e sancionada pelo Estado.
Sócrates, pois, lança-se na empreitada de investigação da sabedoria dos seus contemporâneos, chegando, como não é de se estranhar, a causar ódio em muitos. Conclusivamente ele diz: “Por isso, não parei esta investigação até hoje, vagueando e interrogando, de acordo com o deus”. (Platão, 2000, pág. 47).
Outro momento no qual Sócrates expressa a sua convicção, acontece “[...] quando um deus, como eu acreditava e admitia, me mandava levar vida de filósofo [...]”. (Platão, 2000, pág. 55). Este fragmento aponta realidades da sua convicção religiosa que são consideravelmente elucidativas. Observe-se que o texto diz: “acreditava e admitia”. Dois pontos importantes: crer e admitir. Crer somente não implica em obedecer. Mas a sua crença era completa, visto está ratificada pela admissão. Admitir implica na aceitação da incumbência crida. Outro aspecto importantíssimo da última citação refere-se a “levar vida de filósofo”. Este detalhe é luminoso neste enfoque, visto indicar que a vida de Sócrates, não meramente partes estanques da mesma, estava fundamentada num imperativo categórico da divindade. Neste mesmo momento, Sócrates arremata: “Tais são as ordens que o deus me deu, ficai certos. E eu acredito que jamais aconteceu à cidade maior bem que minha obediência ao deus.” (Platão, 2000, pág. 57). Tal é a compreensão de Sócrates sobre si mesmo, chegando a hiperbolizar o seu valor para a cidade. “Podeis reconhecer que sou bem um homem dado pelo deus à cidade por esta reflexão”. (Platão, 2000, pág. 58). Palavra bem característica de um profeta em missão. O fenômeno profético em várias religiões é alicerçado nas premissas de uma vocação e um imperativo divinos, assim entendidos pelo escolhido. Vemos isto semelhantemente nas religiões judaica, islâmica e cristã. O profeta judeu, Jeremias (626 – 609 a. C), por exemplo, escreve: “a mim me veio a palavra do Senhor, dizendo: Vai, e clama aos ouvidos de Jerusalém [...]”. (PLAMPIN, 1987, pág. 20). Do mesmo modo que Jeremias se entendeu como enviado à capital judaica, Sócrates assim se entendia em relação a Atenas. Jeremias foi dado pelo seu deus a Jerusalém; Sócrates, a Atenas.
Sócrates chama para auxiliar a sua defesa, várias instâncias de sua vida. Sem dúvida que é retórica a convocação do seu ethos pessoal para auxiliá-lo. Pode-se dizer que sua relação com a divindade, como ele a concebe, leva também em consideração um fenômeno pelo qual passa desde criança: “uma inspiração que me vem de um deus ou de um gênio (demônio); [...] Isso começou em minha infância; é uma voz que se produz e, quando se produz, sempre me desvia do que vou fazer [...]”. (Platão, 2000, pág. 59). Sócrates entende este fenômeno como devido à intervenção do deus em sua vida. Na verdade, “o dado místico” impregna a consciência de Sócrates: oráculos, sonhos, “outros meios” (a voz que ele ouvia desde criança?). É possível que a referência à fase de criança leve o seu ouvinte a pensar sobre o tempo de experiência que o filósofo tem de convivência com estes “contatos” divinos. Evidente que o fator tempo numa experiência conta muito bem como argumento retórico. Mas isto não anula a informação que parece ser superlativa para o mestre ateniense. E Sócrates continua expondo a sua convicção: “eu vos disse toda a verdade [...] faço-o por uma determinação divina, vinda não só por meio do oráculo, mas também de sonhos e de todas as vias pelas quais o homem recebe ordens dos deuses.” (Platão, 2000, pág. 61). Forma-se assim uma compreensão da consciência religiosa de Sócrates em face destes episódios.
Tovar comenta, comparando Sócrates com Solón, herói ateniense:

Como Solón, (Sócrates) adorava as divindades recebidas, desejava a sua glória e temia a Zeus, que governava as nuvens e depois da tempestade descia sempre as cortinas do céu azul. Pensava Sócrates, como Solón, [...] que a justiça tem uma sanção divina e que aquele que comete um pecado termina sempre por pagá-lo. (TOVAR, 1966, pág. 63).[3]

            Esta citação faz referência à justiça, um dos temas abordado pelo mestre ateniense. O comentário é de que Sócrates concebia a justiça como tendo sanção divina. E não seria de estranhar, pois para quem levava vida de filósofo por imperativo divino, não deixaria de pensar a ética pelo prisma do deus. A compreensão socrática sobre o pecado como merecendo a pena divina, ratifica o seu lado de pensador também teológico. Concebe o mestre que o deus está a interferir diretamente nas ações humanas, aplicando suas sanções sobre aqueles que não são devidamente justos.
            Outro comentário de Tovar, entitulado: “Sócrates en la religión helénica”[4] diz:

É evidente que o oráculo de Delfos converte-se para Sócrates em consciência de missão, em consigna para sua vida. Basta ler a Apología platónica para convencer-se. O oráculo é a chave da mudança súbita na vida de Sócrates, tal como se nos relata no Fedón, e que oferece os caracteres de una verdadeira conversão de tipo religioso, mais semelhante àquela que acontece entre cristãos que a qualquer experiência espiritual entre filósofos antigos. Religiosa é, pois, a consciência que tem Sócrates de reformador. (ToVAR, 1966, págS. 166 e 167).[5]


            É bem forte esta comparação feita por Tovar quanto à conversão religiosa. O fato de a experiência de Sócrates “oferecer os caracteres de uma verdadeira conversão” é ponto sugestivo para a reflexão. O autor coloca Sócrates bem fundado num contexto religioso. Por se tratar de conversão e por assemelhá-la à acontecida no cristianismo, Tovar abre espaço, nas entrelinhas, para se compreender Sócrates como alguém que tem como alicerce de sua vida a religião. O que não é de estranhar, pois que o próprio mestre diz que o deus ordenou-lhe “levar vida de filósofo”. Se antes não havia esta consciência, após a suposta conversão passou a haver.
Mesmo sendo também lacônico quanto ao aspecto religioso da vida de Sócrates, Werner Jaeger diz:

Abundam extraordinariamente nos socráticos as passagens em que se fala do cuidado da alma ou da preocupação com a alma, como a missão suprema do Homem. Deparamos aqui com a medula da própria consciência que Sócrates tinha da sua tarefa e da sua missão: uma missão educacional, que interpreta a si próprio como serviço de Deus. Este caráter religioso da sua missão baseia-se no fato de ser precisamente do cuidado da alma que se trata, pois a alma é para ele o que há de divino no Homem. (JAEGER, 1994, pág. 528 – Grifo nosso).

            Note-se que, com estas palavras, mesmo não dedicando espaço considerável ao assunto, Jaeger se enfileira com outros autores quanto a entender a missão de Sócrates vinculada à realidade religiosa. Ele é categórico quando escreve: “caráter religioso da sua missão”. Chega mesmo a admitir que a missão de Sócrates era religiosa. O “cuidado da alma”, citado por esse autor, é elucidativo, pois que é a abordagem socrática sobre a alma que vai influenciar os seguidores de Jesus na abordagem teológica sobre a alma humana, a partir do século II d. C. Muito da obra patrística apresenta aspectos que podem ser referenciados com o conceito de alma em Sócrates. A esta altura, com esta relação acima apresentada, é digno de destaque o caso do mártir São Justino que, em 155 d. C. identificou Sócrates como cristão, visto ter o mesmo vivido no Logos. O que para ele significava, no próprio Cristo. (BERGE, 1996, pág. 11). Não esquecendo que, mesmo em tempos pósteros, Sócrates referencia o espiritual. Não é possível que toda esta compreensão sobre o mestre ateniense fosse equivocada. Não se trata, evidentemente, de querer provar que Sócrates serviria como fundador de religião, mas de constatar em sua vida uma religiosidade compromissada e justificativa de sua ação.
            A questão que se pode colocar é: considerando que a compreensão teológica veiculada por Sócrates, de um modo ou de outro expressa em sua filosofia, distanciava-o da visão de divindade ou de religiosidade concebida pelos atenienses, não teria sido, aos olhos de seus acusadores, devidamente colocada a acusação que lhe imputaram, e não meramente um artifício para se livrarem de um inimigo, no caso, Sócrates? Este assunto é bastante complexo para alguns. O que se pode sugerir além do dado religioso no processo, é que a acusação recaiu sobre o filósofo visto ter sido ele educador de Alcibíades e Crítias os quais traíram a democracia ateniense. (barsa, 1999, pág. 300 – Verbete sobre Sócrates). O que se constitui num dado político e que também substancia a acusação de corrupção à juventude. Sócrates, na interpretação de seus acusadores, pôs-se contra o Estado e contra a divindade. Nada mais justo que penitenciá-lo.

Esta temática continuará com outros tópicos.

BIBLIOGRAFIA

BARSA, Nova Enciclopédia. – São Paulo: Encyclopaedia Britânica do Brasil Puclicações, 1999. Vol. 13. 506 págs.
BERGE, Damião. O lógos heraclítico: introdução ao estudo dos fragmentos. Rio de Janeiro. Instituto Nacional do Livro, 1996.
CHAUÍ, Marilena de Souza. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a aristóteles. Vol. I. 3ª edição. São Paulo. Brasiliense, 1994.
GIBELLINI, Rosino. A teologia do século XX. São Paulo. Edições Loyola. 1998. Págs. 591.
JAEGER, Werner Wilhelm. Paidéia: a formação do homem grego. 3ª edição. São Paulo. Martins Fontes. 1994. 1413 págs.
O’GRADY, Joan. Satã, o príncipe das trevas. São Paulo. Editora Mercuryo Ltda, 1991. 189 págs.
PESSANHA, José Américo Motta (Consultoria). Vida e obra (de Sócrates). In: Os pensadores: Sócrates. São Paulo. Editora Nova Cultural, 2000. 287 págs.
PLATÃO. A república. São Paulo: Editora Martin Claret. Coleção a obra prima de cada autor. 2000.
PLATÃO. A apologia de Sócrates. In: Os pensadores: Sócrates. São Paulo. Editora Nova Cultura, 2000. 287 págs.
PLAMPIN, Richard T. Jeremias: Seu ministério, Sua mensagem. Rio de Janeiro. Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1987. 193 págs.
TOVAR Antonio. Vida de sócrates. 3ª edição. Madrid (Espanha). Editora Revista de Occidente, S. A. 1966. 498 págs.
XENOFONTE. Ditos e feitos memoráveis de Sócrates. In: Os pensadores: Sócrates. São Paulo. Editora Nova Cultura, 2000. 287 págs.

Willians Moreira Damasceno


[1] Bêndis, deusa trácia que se confundia com Ártemis.
[2] algumas versões trazem Xenofonte.
[3]Como Solón, (Sócrates) adoraba a las divindades recibidas, deseaba la gloria e temía a Zeus, que gobernaba las nubes y después de la tempestad descorría siempre las cortinas del cielo azul. Pensaba Sócrates, como Solón, aunque interiorizase más esta creencia, que la justicia tiene una sanción divina y que el que comete un pecado termina siempre por pagarlo.”
[4] Mesmo tendo este título, o autor não explora o tema da missão religiosa de Sócrates; na verdade, sobre isto é lacônico.
[5] Es evidente que el oráculo de Delfos se convierte para Sócrates en conciencia de misión, en consigna para su vida. Basta leer la Apología platónica para convencerse. El oráculo es la clave del cambio súbito en la vida de Sócrates, tal como se nos relata en el Fedón, y que ofrece los caracteres de una verdadera conversión de tipo religioso, más semejante a la que se da ya entre cristianos que a ninguna peripecia espiritual en filósofos antiguos. Religiosa es, pues, la conciencia que tiene Sócrates de reformador.