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segunda-feira, 13 de julho de 2009

LEMBRANÇAS QUE ME FAZEM PENSAR

 

Na madrugada passada vários lances de memória passaram pela minha mente. Lembrei-me do tempo quando eu morava em um povoadozinho, quase fazenda, de nome Umburanas, no interior de Pernambuco, perto da cidade chamada Arcoverde. Tempos idos de minha infância. Não tinha energia elétrica; nenhum eletro-doméstico. A água chegava à minha casa trazida em um jumentinho que eu conduzia, ida e volta, uns 5 a 6 km. Nem imaginava que um dia conheceria um videogame, uma TV a cabo, um computador... Meus brinquedos eram bonequinhos de barro, quando não pedrinhas que simulavam animais. Lá eu brincava de correr com Jorli, meu cachorro; um cachorro bonito, amarelo-laranja. Eu tive vários cachorros na infância. Jorli foi um; outro foi Dick. Uma cadelinha foi baleia. Não me lembro mais do nome dos outros. Por quê?

Lembro-me de minha mãe passando ferro a brasa na roupa. Meu pai escutava uma rádio de Arcoverde através de um aparelho de rádio que mais parecia uma caixa de madeira.

Eu triturava o milho em uma pedra de mó, para fazer cuscuz. Ah, cuscuz gostoso! Aquele, sim!

Ah! Tempos bons! Mas são só lembranças; não é nostalgia.

Fui motivado a pensar sobre este meu passado por ler um texto a mim enviado, faz algum tempo, o qual abordava a indignação do escritor quanto a estar "proibido" de usar tudo quanto estava acostumado a usar. Toda aquela indignação em virtude da possibilidade do apagão. O título do texto: "Eu não vou...". Transcrevo-o abaixo.

 

"Eu não vou...

Eu não vou mais escutar música.

Eu não vou mais usar o elevador.

Eu não vou mais ver televisão.

Eu não vou mais tomar longos banhos.

Eu não vou mais usar o computador.

Eu não vou mais deixar todas as luzes acesas.

Eu não vou mais ter ar condicionado nos cinemas.

Eu não vou mais usar escadas rolantes.

Eu não vou mais usar o micro-ondas.

Eu não vou mais usar a torradeira.

Eu não vou mais usar a secretária eletrônica.

Eu não vou mais usar ventilador.

Eu não vou mais usar a máquina de lavar roupas.

Eu não vou mais ligar o freezer.

Eu não vou mais ao circo.

Eu não vou mais ter iluminação pública, mas o IPTU vai ficar o mesmo.

Eu não vou mais escutar rádio em casa.

Eu não vou mais usar o telefone sem fio.

Eu não vou mais ligar o fax.

Eu não vou mais usar torneira elétrica.

Eu não vou mais usar a máquina de lavar louças.

Eu não vou mais usar aquecedor.

Eu não vou mais ligar o alarme em casa.

Eu não vou mais usar o liquidificador.

Eu não vou mais ligar a secadora de roupas.

MAS, NO ANO QUE VEM EU VOU VOTAR!

"Vamos fazer esta mensagem circular por todo o país, para sacudir aqueles que têm memória fraca".

 

Pelo menos este indivíduo tinha a consciência de que não havia perdido o direito de voto.

Pois bem! Naquela época, quando cheguei a casa à noite, disseram-me logo: "não vamos mais usar a sanduicheira. Agora vamos fazer torrada manualmente". Lembro-me que pensei: Já não estou usando o banho quente como usava antes. Às vezes, chegava a casa, cabeça quente, colocava uma cadeira debaixo do chuveiro, sentava, ligava no "verão" e era aquela hidroterapia.

De qualquer forma fiquei a pensar: como nós nos condicionamos e somos condicionados ao uso de coisas. Isso é tão verdade que causa irritação em muita gente o bloqueio aos seus prazeres elétricos e eletrônicos. Uma senhora, amiga minha, disse: "tanto que fiz, depois de velha voltei a ser pobre". Referia-se ela ao fato de desligar o freezer e outros aparelhos dos quais passou a dispor em sua casa.

Eu me pergunto: quantos não estão frustrados neste Brasil? E irritados, quantos? Tudo por conta dos bloqueios aos seus desejos.

Passei a me dizer: você não depende destas coisas; lembre-se do seu passado. Mas pensei também: quantos que estão em contextos diferentes do meu e dependem destas coisas?

Lembro-me aqui do profeta Jeremias que reclamou diante de Deus, em face de sua situação. Deus, por sua vez, respondeu ao profeta: "ora, se estás reclamando enquanto andas com homens que vão a pé, o que farás quando eles estiverem a cavalo e tu a pé?".

Ninguém interprete que o que tenho escrito significa que devemos baixar a cabeça e cruzar os braços ante os atos políticos irresponsáveis, referentes ao problema do apagão. Estou chamando à reflexão os bastidores das nossas motivações.

De qualquer forma, lembro-me agora daquela cantiga: "vamos passear no bosque, enquanto seu lobo não vem." E quando "seu lobo" chegar, esteja preparado!

Willians Moreira

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