Muitas mulheres reclamam de seus maridos porque eles não são mais românticos. Elas esperam que os tais voltem a agir do modo como há muito não agem ou como agiam no início do relacionamento. No entanto, sabe-se que aquela condição de romantismo acabou não sem explicação. Durante o tempo de convivência que o casal vai mantendo, muitas das condições daqueles velhos tempos vão mudando ou desaparecendo. A convivência debaixo do mesmo teto vai acrescentando um tempero ao relacionamento que no período de namoro ou noivado não existia. E não existia porque as condições do casamento não são mais as do tempo anterior. É impossível que isto não aconteça. Mesmo para os casais considerados modernos, morando cada um em canto separado. A convivência permite que ambos enxerguem realidades do outro que antes não enxergavam. Cada um vai colocando suas "unhinhas" de fora (ou escondendo outras coisas). Os arranhõeszinhos vão acontecendo: um de cá; outro de lá. E, quando menos se espera, descobrem que não há mais aquela atmosfera de antigamente. São os reclames, os queixumes, as lamentações, as críticas, os desprezos, as conturbações da criação dos filhos e da administração do lar, e mais outros temperos que concorrem para o desaparecimento da tão querida paixão e do tão apreciado romantismo. E não é só o homem que muda não! A mulher também. Toda essa realidade mexe com o "mecanismo" psicológico de ambos. Sem contar que o acostumar-se de um com o outro faz com que manifestações da suposta paixão como mãos suadas de ansiedade pelo outro, friozinho na barriga, idas e vindas ao portão enquanto o outro não chega, o ouvido no telefone esperando o outro ligar, sejam consumidas. E, naturalmente, a paixão vai embora, indo com ela, no mais das vezes, o romantismo, que é uma estratégia para alcançar o objetivo da sedução. Ora, para se viver as mesmas emoções daquele passado, emoções da paixão, faz-se necessário que as mesmas condições ou semelhantes voltem a acontecer. Isso significa que ficar querendo que "o meu marido seja romântico" ou que "a minha mulher me trate como naquela época" será necessário armar o mesmo palco daqueles tempos. Em outras palavras: passar uma esponja na memória e começar tudo de novo. Seria possível? Quem sabe? Pode até ser: a fenomenologia humana é consideravelmente dinâmica. O fato é que cada acontecimento, cada emoção, cada momento, é único. Mesmo que um casal consiga, de alguma forma, a proeza de voltar a se apaixonar um pelo outro, essa paixão seria única em sua época, enquanto acontecesse. Mas nunca seria essa paixão igual àquela que sentimos quando nos apaixonamos por alguém com quem nunca tivemos aproximação antes. E parece que é esta a paixão que muitas mulheres casadas estão buscando. A realidade do novo, que fomenta a curiosidade dos encontros, das descobertas e das emoções fortes, é praticamente impossível a um casal já acostumado consigo mesmo. Mas, como a realidade humana é uma caixinha de surpresa, quem sabe se algum casal não consegue essa façanha. Difícil será comprovar tal fenômeno, pois que o padrão já sacramentado é justamente aquele que causa as reclamações de muitas mulheres. Parece que o mais acertado, nestas circunstâncias, é apelarmos para a maturidade de sabermos conviver com o comportamento já vivenciado pelos humanos através dos séculos. A paixão pode até ser a porta de um relacionamento que se desenvolverá a um patamar de maturidade que não dependerá meramente de emoções fortes, mas que manterá o respeito e o equilíbrio entre as partes, culminando na sólida certeza de que, apesar dos percalços e mazelas da personalidade humana, pode-se seguir estrada, consciente de que, não um mero sentimento, mas a responsabilidade no zelo pelo outro, será o parâmetro que indicará que a paixão tem o seu momento, mas jamais ocupará o espaço que só pode ser ocupado pelo amor.
Quem ama poderá praticar muito do que o apaixonado pratica, mas a paixão nunca terá a mesma consistência do amor.
Willians Moreira
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