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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

TEMPO E ETERNIDADE

Que é o tempo?

Como explicar a natureza do tempo?

Tempo absoluto e/ou tempo relativo?

Quais as implicações do pensamento sobre a natureza do tempo?

Como se sabe que o tempo passa?

Que é eternidade?

Qual a diferença entre tempo e eternidade? Existe uma diferença?

 

A noção comum que se tem de tempo, mesmo que seja complicado explicar a sua natureza, parte de como o mesmo é medido ou contado. Para medir o tempo o homem criou o calendário, o relógio, e tantos outros apetrechos que para isso lhe servissem. Estes dispositivos estão vinculados basicamente à mudança dos astros, sol e lua, na sua trajetória pelo firmamento. Os dias passam porque o sol nasce e se põe, num período de 24 horas, de um nascer do sol a outro. A cada 24 horas, portanto, convencionou-se que se passa um dia. A passagem dos dias gera a passagem dos meses e assim sucessivamente. Portanto, é a partir do movimento do sol que se concebe, basicamente, a passagem do tempo. Numa perspectiva popular, isso significa que o tempo está vinculado à percepção do movimento dos astros. É este movimento que imprime nos homens a sensação da passagem do que se chama tempo. Não é à toa que o primeiro livro da Bíblia, o Gênesis, no seu primeiro capítulo, vincula o tempo aos astros celestes. O tempo, portanto, pode ser dito como sendo a presença de movimento de referenciais que aponta para uma transformação na aparência das coisas observáveis. Coisas observáveis podem ser entendidas como coisas objetivas; objetivas enquanto concretas, como o sol, a lua, um carro, um corpo, uma árvore, etc.

Diz-se que o tempo passou quando um homem de 49 anos se vê no espelho e percebe a mudança em sua aparência porque se lembra de quando tinha 14 anos de idade ao ver uma foto daquela época. Em face de uma dieta que mude a aparência do corpo humano, pensa-se no antes, no agora e no depois de tal dieta. Com esta visão diz-se que o tempo passou. Por quê? Porque o "antes" refere-se ao dia no qual foi iniciada tal dieta; o "agora" pode estar duas semanas após o início da dieta e o "depois" está no projeto de como se pretende parecer após o término da dieta.

O que é, pois, o tempo?

De uma perspectiva subjetivista, O tempo é também o transcurso entre a memória do "antes", a sensação do "agora" e a esperança do "depois". Tempo é nada mais, nada menos que a sensação de movimento acontecido no reino do observável.

            Nesta compreensão de tempo envolve-se a subjetividade quanto à memória do passado e a esperança ou projeto de resultados, como também a sensação do presente que envolve tanto a subjetividade quanto a objetividade de quem observa o movimento dos acontecimentos.

Pode-se então conjecturar sobre a eternidade como a ausência de movimento. Assim sendo se a eternidade for entendida como dimensão fora do tempo.

Se a eternidade existe, como conceber nela objetos observáveis, referenciais que, a depender do observador, apontariam para o fato do movimento, desde que se pense no movimento como vinculado ao tempo, porque dependente de referenciais?

E, como se não bastasse, se existe um ser na eternidade, não estaria sujeito a movimento ou a qualquer sombra de variação. Seria um ser estático, cuja natureza seria inconcebível por seres que estão no reino do movimento.

Decorre deste raciocínio a impossibilidade de seres temporais ou do reino do movimento viverem de per si na eternidade, se esta for concebida como realidade à parte do tempo. A menos que estes seres entrem no estado de estaticidade, portanto de nenhum movimento. Assim, se há algum tipo de vida na eternidade, não seria de forma alguma parecida com esta do reino do movimento. A menos que se pense a eternidade como tempo sem fim e não como dimensão paralela ao reino do movimento, o que implicaria num tempo absoluto, sem necessidade de referenciais, contendo o próprio tempo que depende de referenciais percebidos pelos seres humanos.

Outra forma de pensar o tempo é entendê-lo como vinculado ao movimento do pensamento, afinal o movimento implica num "antes" pensado e num "agora" também pensado. O que parece ser difícil é pensar situado num "depois", pois que o pensar estar sempre num presente. É possível a memória de se haver pensado ontem. Porém, um pensar amanhã é apenas um projeto não realizado, portanto, não existente como pensamento e sem garantia de que acontecerá. Assim sendo, o tempo, pela perspectiva do movimento do pensamento, só acontece, só é real (se assim pode ser dito) no presente. Dessa forma, duas dimensões, passado e futuro, são eliminadas; na verdade, ambas, de fato, não existem, pois que uma é só memória e a outra é só projeto.

Partindo-se do pressuposto de que o tempo está na dimensão do movimento e se eternidade é o seu contrário, ou seja, é realidade estática, ou seja, nela não há movimento, até que ponto é possível conceber um ser eterno, ao mesmo tempo em relação com seres vinculados à dimensão do tempo, entendendo-se que toda relação entre seres interagentes implica movimento? Como entender que um ser alheio ao movimento, à mudança, não limitado por uma percepção vinculada a referenciais, pode, ao mesmo tempo, ser referencial para outros seres? Haveria possibilidade de existir um referencial que não tivesse referenciais? Ser referencial parece implicar em se vincular ao tempo. O que, por sua vez, é estar vinculado ao movimento e, portanto, à perecibilidade. Isto parece não se vincular a um ser eterno, desde que se pense a eternidade como realidade diversa do tempo. E se assim não o for? A menos que eternidade seja apenas um sinônimo de tempo absoluto, o qual conteria o tempo relativo. Neste caso, o que teria dado início a este movimento? Questionando-se desta forma, chega-se à pergunta pela possibilidade de um ser que extrapole o tempo e a eternidade. Assim, em que dimensão se enquadraria esta entidade? Parece que neste ponto a linguagem torna-se precária para apresentar termos que nomeiem tal ser. Admitir por outro lado que a eternidade é a dimensão da entidade criadora do tempo relativo é admitir que há algo não criado paralelo àquela entidade, o que vem a ser a própria eternidade ou tempo absoluto.

Se o tempo for pensado pela perspectiva da Teoria da Relatividade de Einstein, parece ratificar-se mais ainda o fato de que o tempo é puro movimento sujeito à relatividade da velocidade de um objeto em movimento. A sua passagem ou o seu movimento não terá a mesma percepção, dependendo do observador e de como se processa a velocidade do movimento. Ora, se quanto mais velocidade houver, mais lentamente o tempo passará, que velocidade poderia haver na eternidade que levaria o tempo a praticamente parar? Mas como pensar num tempo estático, absoluto, se é dependente do movimento? Seria possível pensar em eternidade vinculada à velocidade, se isto vincularia aquela ao movimento? E uma vez havendo movimento na eternidade, existiria nela também perecibilidade necessariamente? A menos que, repita-se, eternidade seja tempo sem fim. E se assim o for, até que ponto o próprio ser eterno não perderia seu caráter de eternidade? O que se torna um paradoxo, para não dizer uma contradição. Parece que a questão mais fundamental passa a ser a natureza do ser vinculado ao tempo absoluto e dos seres vinculados ao tempo relativo e a possibilidade de estes participarem daquele.

Questione-se!!!!!

Willians Moreira Damasceno