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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

MARCADORES DE LINGUAGEM – MARCADORES DE EXISTÊNCIA

 

            Marcador de linguagem é aquela expressão recorrente que se pronuncia quando se está num diálogo, monólogo ou coisa parecida.

            Uma de minhas práticas quando converso com alguém ou escuto uma conversa é captar os marcadores de linguagem dos interlocutores. Exemplo: "oxente". Esse marcador é velho e não é somente individual; é coletivo. Quase todo mundo diz "oxente". "oxente" pra cá, "oxente" pra lá. Você sabe qual a origem desse marcador? Em sala de aula, minha professora Nevinha disse que uma das versões dizia que veio de "oh, gente!". Bom! "oh, gente!" pra lá, "oh, gente!" pra cá, e olha no que deu. Isso me fez lembrar que lá pelos idos da década de setenta, eu tinha uma professora de português, Socorro Sena, que marcava sua fala, justamente com "oh, gente!". Mas eu já ouvia também "oxente".

            Ainda na linha dos marcadores coletivos, ultimamente eu tenho observado entre os adolescentes e jovens, e já contaminando alguns adultos, o marcador "tá ligado". "tá ligado" pra lá, "tá ligado" pra cá. Espero que daqui a pouco não haja curto circuito.

            A nossa época está tão marcada pela tecnologia e pelos eletrônicos que nós, que antes antropomorfizávamos tudo, agora somos tecnomorfizados. Será que as máquinas vão mesmo nos dominar?

            Há aqueles marcadores de linguagem coletivos que recebem vulgarmente o estigma de palavrão. São as pornografias e pornofonias. A fala do cidadão é pontuada por recorrentes "puta-merda", "porra", "pqp". O palavrão possui bastidores psicológicos bem sugestivos para análise. Mas eu sou apenas curioso nesse assunto.

            E os marcadores de linguagem apenas individuais? Há gente que conversa o tempo todo intercalando sua fala com recorrentes "sabe". "Sabe", fulano, eu gostaria de..."; "Sabe", eu vou...". É um "sabe" pra lá, um "sabe" pra cá, que dá agonia.

            Você conhece quem fala "aí" recorrentemente? São tantos "aís" que logo, logo, ficamos enjoados. "Ai", eu fiz isso; "ai", eu fiz aquilo". É "aí" pra lá; é "ai" pra cá, que dá dó.

            E que me diz de "né". "Virgem santa", é horrível!

            Fazer o quê? Os humanos são mesmo seres de recorrência. Vivemos recorrendo num montão de assuntos. Há tantas coisas que faço que já havia feito antes. Coisas que já estão na hora de eu parar de fazê-las e eu ainda não parei. Coisas recorrentes na minha vida que em comparação aos tais marcadores de linguagem são questões ínfimas. Na verdade, os marcadores de existência contam mais. Aconteceria de os marcadores de linguagem serem indicadores de marcadores de existência? Que me diz, Freud?

            Quer se livrar de algum marcador? É possível. Uns conseguem; outros, não. Mas é possível. Se não conseguir sozinho, busque ajuda.

            Que tal recorrer sobre esse assunto?
Willians Moreira

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