Sabe aquela história de sermos enganados pelos ouvidos quando ouvimos algo e depois descobrimos que não foi bem o que pensamos ser? A fala tem dessas coisas, sim. Alguns fazem brincadeiras com isso. Na escola, eu me lembro que um professor meu, quando queria alertar-nos sobre a necessidade de prestarmos atenção, dizia: "não confundam 'tratado de tordesilha com tarado atrás das ilhas'". Era aquela festa; a meninada vibrava. Volta e meia, ele vinha com uma nova. Uma que todo mundo conhece, ele dizia: "não confunda frei Damião com freio de caminhão".
Fazer o que? São os trocadilhos da fala e "equívocos" da audição.
Lembrei-me daquela história do menino que foi se matricular na escola. A secretária perguntou a ele:
- como é o seu nome?
O pai do menino respondeu:
- Edson Paulo.
- Eu não perguntei de onde ele é. Quero o nome dele.
O menino gritou:
- Edson Paulo...
Tal é o nosso deslumbre quanto a estas possibilidades da fala e da audição quando nos lembramos da "velha surda" da "Praça é nossa" (SBT). Haja dificuldade para ela entender o que ouvia.
Bom! De equívoco em equívoco, lembrei-me de uma que eu presenciei nos idos dos anos oitenta, em Recife/PE. Naquela noite eu fiquei mais convencido ainda que certos nomes não devem ser colocados nos filhos. O bom Deus só no-los dá uma única vez e corremos o perigo de marcá-los de modo a criar um estigma dos infernos. Dos infernos nem tanto; só se o nome fosse Lúcifer, Belzebu, ou coisa parecida. Mas como prever certas circunstâncias? Não sei, não. Pelo menos o nome que tenho na memória não daria a impressão de alguém passar o que presenciei naquela noite.
Eu e minha amiga Suerda estávamos no seu carro. Ela fazia algumas peripécias ao volante, características de quem ainda não tinha muita habilidade na direção. Eu imaginei que logo, logo, alguém iria dizer-lhe umas boas. Dito e feito. Por incrível que pareça, alguém, num carro, emparelhou-se conosco e começou a gritar: "Suerda, Suerda, Suerda". Do meu lado, eu escutava meio apreensivo. Suerda fazia que nem ouvia. E continuava o sujeito a gritar. Eu pensava: Poxa! Ela está tão acostumada com o nome dela que nem liga mais. E eu brincava com ela: Atende, mulher! Vai que é um fã anômino. Nesses pensamentos, eu disse a ela: Você não vai atender? Depois de algum tempo, ela parou o carro e, desaforada como era, mandou-me descer. Eu tomei um susto. Não entendi. Mas desci meio desnorteado.
Enquanto eu estava descendo e não mais sentia o influxo dos movimentos do carro e do vento em meus ouvidos, ouvi novamente, quando o mesmo elemento passou por nós e gritou: "sua merda, sua merda, sua merda". Agora eu lhe pergunto: eu tenho culpa? Ainda bem que eu estava perto de meu destino.
Willians Moreira
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