Páginas

sábado, 23 de maio de 2009

“QUEM MUITO ABARCA, NÃO PODE APERTAR”

             Que dever tenho eu de me responsabilizar pelos problemas do mundo? Até que ponto deve chegar a minha solidariedade?

            Hoje nós mantemos uma concepção global do mundo. Num passado remoto, o homem conhecia apenas as necessidades dos que lhe estavam bem próximos. O contingente humano na terra era bem menor e a vizinhança menor ainda. De sorte que a pressão das desgraças da humanidade sobre a mente do homem era bem menos influente.

           O modo de sermos influenciados depende consideravelmente de como internalizamos a nossa época. O coletivo é força maior sobre a nossa psiquê. Segundo Eugênio D'ors, filósofo espanhol, citado pelo professor João Wilson Mendes Melo, da UFRN, há várias etapas da história universal; cada etapa manifestando uma predominância de um determinado pensamento. O humanismo predominou na antiguidade; o social, na Idade Média, o Estatal, na modernidade e hoje, na contemporaneidade, predomina o cultural. Neste ponto, o professor João Wilson substitui o cultural pelo econômico, justificando que hoje há uma grande preocupação com a economia mundial (Introdução ao Estudo da História, João Wilson Mendes Melo, Natal/RN, editora universitária, 1988). Segundo o professor João Wilson, há sempre a predominância de um pensamento, de uma concepção.

            Hoje, em função desta predominância do econômico, somos levados a ver a fome do mundo mais do que antes. Mas o que nos leva a ver mais a fome do mundo e não meramente a fome da nossa vizinhança? Será que os meios de comunicação não estão nessa empreitada de hipertrofiar a fome mundial ante os nossos olhos?

            Juntando a ênfase dos meios de comunicação com uma maciça formação ético-moral de solidariedade (se essa for a nomenclatura melhor), nós nos compungimos esmeradamente. Sem falar sobre aqueles que entram em crise espiritual, pois que se imaginam o grande herói Atlas, carregando o mundo nas costas. Resultado: coluna emocional avariada.
            Não consta que o homem da antiguidade passava por esse infortúnio. Isso é um mal da contemporaneidade. Devido à globalização, muitos são engolidos por alguns males ideológicos que podem levar muitos ao "divã".

            Em função dessa reflexão, o homem precisa demarcar o alcance de sua solidariedade como indivíduo e como sociedade. Observe-se que o isolamento, talvez não seja aconselhável, senão como medida provisória, para revisão de algum exagero na contrapartida. Às vezes, isolar-se ajuda a equilibrar a balança emocional. Permanecer no isolamento, por sua vez, não seria outro exagero, outro desequilíbrio?

            Muitos ficam como que obsecados pela idéia de salvar o mundo da fome ou de outra coisa qualquer. E em alguns casos, ressentem-se contra os que não encampam os seus afãs. São excessos que devem ser evitados. O anseio de salvar os de lá, pode criar intrigas ou injustiças contra os de cá. Nesse caso, onde estaria a sabedoria?

            Há uma necessidade de se ter consciência da ação que se prática. É preciso ter cuidado com uma concepção absolutista de mundo. O mundo não é meramente o que os meios de comunicação de massa estão dizendo. É preciso ter cuidado para não se deixar tragar, engolir pelo que é dito pela maioria.

            Que milhões de pessoas estão morrendo ou passando fome no mundo não é novidade. E não poderia ser diferente. A natureza sabe que a morte é uma aliada sua muito sábia. A morte acontece hoje em maior escala e aconteceu ontem em menor escala. Não meramente porque a humanidade tenha fracassado em controlar a sua mortandade. Mas por proliferação do ser humano na terra. Se a morte fosse erradicada, pagar-se-ia um preço infernal por isso. Portanto, que a morte siga seu curso implacável.

            Junto com a morte, a fome. Hoje a fome causa maior impacto devido ao crescimento populacional, principalmente nos países pobres. Mas esse impacto no mundo deve-se à exploração dos meios de comunicação.

            Existe violência entre todas as espécies animais. A violência prolifera-se em função de vários fatores. Quanto maior o contingente populacional, maior a probabilidade de aumento da violência e de outras mazelas também. Colhe-se o que se planta. Da mesma forma, a violência impacta a sociedade contemporânea pela mesma via dos meios de comunicação.

            Desse raciocínio, não deve ficar a impressão de que se deve cruzar os braços ante as desgraças vividas pelo homem contemporâneo. Advoga-se antes uma autoconscientização em virtude dos acontecimentos. Advoga-se antes uma demarcação emocional quanto ao ponto que a solidariedade deve alcançar. Jamais permitindo que os sentimentos de solidariedade embarguem a saúde e o bem-estar do espírito.

            No caso particular, por que será que a fome, a mortandade e a violência de sua cidade não lhe emocionam o suficiente para lutar por uma mudança positiva do quadro?

            A sábia máxima cristã prescreve contra os excessos: "basta a cada dia o seu mal". Portanto, para que a tentativa de abarcar emocionalmente o mundo?
 

Willians Moreira

Nenhum comentário: