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quarta-feira, 27 de maio de 2009

EXISTÊNCIA E VIDA

 

 

Tenho refletido sobre o que é o ser humano. Afluem à minha mente inúmeras metáforas, sinônimos de humanidade. Pensei até em fazer poesia. Desisti. Afinal, tenho desistido de muitas coisas. Muitas estão incompletas e talvez nunca tenham prosseguimento. Refleti sobre como minha vida tem sido pesarosa em alguns momentos. Quando olho para o que fui, para o que estou sendo e para o que gostaria de ser, corre-me pela mente um sentimento de insatisfação. Quem está absolutamente satisfeito, levante a mão! De imediato, entendo que de qualquer forma eu estou vivendo. Seja como não quero ou de outra maneira, eu estou vivendo. E o que é a vida? Não seria transcorrer-me pelas linhas da existencialidade vivendo virtudes e vicissitudes, quer tenha ou não um coração resignado? Que estou a dizer? Estou a dizer que importa o como existo, porém, muito mais o fato de que vivo. Isto é o bastante. Vivo a despeito de qualquer realidade existencial. Nada mudará isto. Certo que passarei; deixarei de existir. Mas enquanto vivo contribuo para que a identidade da humanidade também exista. Não só exista como também se perceba existindo. É neste ponto em que reside a grande diferença. Outras realidades da natureza supostamente apenas existem. O humano percebe-se existindo. Esta autoconsciência é superior a toda e qualquer realidade circunstancial. Os modos de existência podem ser abordados com conceituações as mais adjetivas pelos mais diversos teóricos. Mas o substantivo permanece intocável. Talvez um grande equívoco, se não o principal, de muitos humanos seja supervalorizar o adjetivo. Desta supervalorização decorrem muitos males: melancolia, depressão, desespero, medo, frustração, revolta. Não me importa se mais perdi ou se mais ganhei. Perdi e ganhei. Não me importa se sofri ou se chorei, se sorri ou se gargalhei, "o importante é que emoções eu vivi". Alguém já percebeu isto. Para muitos é estranho pensar assim, pois que estão sugestionados a uma existência firmada em adjetivos. Já é hora de entendermos que os adjetivos são reflexos oscilantes. O que na infância era-me indesejável, hoje é-me prazeroso. Quantas realidades que me eram agradáveis na juventude e que hoje são para mim repugnadas. Nossos adjetivos são deveras condicionados aos nossos momentos. Por que não extrapolarmos esta barreira? Entendo que é possível. Se algum adjetivo precisamos de aplicar, que seja à vida e não à existência. Este adjetivo deve estar repleto da consciência de que viver, por si, independentemente de qualquer circunstância, é o ato substancial que leva a humanidade a ser eterna enquanto conseguir também existir. Não estou a advogar causa perdida. Faço apologia de uma superação da existência meramente instintiva, egótica, egoística, fálica, animal. Talvez muitos conhecedores da mente humana adjetivem esta apologia como utópica. Não lançarei sobre os tais qualquer adjetivo, pois entendo que os mesmos podem estar adjetivando condicionados meramente pela existência. Seja lá como for, eu vivo. A despeito do que fui, do que estou sendo e do que serei, a minha marca na identidade do humano será indelével, por mais inexpressiva que se apresente. A humanidade não é só Moisés, Jesus, Maomé, Gandhi, Buda, Confúcio, Abraão Lincoln, Tiradentes, Madre Teresa de Calcutá, Martin Luther King, brancos, ricos, eu e você. A humanidade é também Hitler, Judas, Calabar, Jim Jones, o "Maníaco do Parque", o Terrorismo, a Inquisição, nazistas, negros, índios, pobres, eu e você.

Permito-me fazer uma analogia: Os supostos momentos indesejáveis da Vida são como o esterco colocado no jardim. A flora mais viçosa da Vida muitas vezes nutre-se do esterco dos momentos repugnantes.

Seja lá como for eu vivo. Posso não estar alegre, mas sou feliz.

 

Willians Moreira

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