C. G. Jung, em seu livro: "Psicologia da Religião Ocidental e Oriental", apresenta uma reflexão bastante sugestiva:
O homem que apenas crê e não procura refletir esquece-se de que é alguém constantemente exposto à dúvida, seu mais íntimo inimigo, pois onde a fé domina ali também a dúvida está sempre à espreita. Para o homem que pensa, porém, a dúvida é sempre bem recebida, pois ela lhe serve de preciosíssimo degrau para um conhecimento mais perfeito e mais seguro. As pessoas que são capazes de crer deveriam ser mais tolerantes para com seus semelhantes, que só sabem pensar. A fé, evidentemente, antecipa-se na chegada ao cume que o pensamento procura atingir mediante uma cansativa ascensão. O crente não deve projetar a dúvida, seu inimigo habitual, naqueles que refletem sobre o conteúdo da doutrina, atribuindo-lhes intenções demolidoras. Se os antigos não tivessem refletido, não teríamos hoje o dogma trinitário. O caráter vivo e permanente do dogma indica-nos que, se de um lado ele é aceito pela fé, do outro, também pode ser objeto de reflexão. Por isso deveria ser motivo de alegria para o crente a circunstância de que outros procurassem subir ao monte onde ele já se acha instalado.[1]
Isso escreveu C. G. Jung no texto: Tentativa de uma Interpretação Psicológica do Dogma da Trindade, do livro acima citado.
Certo que Jung não era teólogo, porém possuía uma percepção aguçadíssima da realidade religiosa. Ele entendia o grande problema enfrentado por aqueles que pensam sobre os dados doutrinários diante daqueles que preferem aceitá-los sem questioná-los. Jung reconhece o fato de que a dúvida é companheira fiel do religioso; mesmo que ele não queira admiti-la. Pessoalmente, a certos "saltos de fé", é preferível a caminhada, muitas vezes longa, do pensar questionador. É nesta disposição de caminhar pensando, refletindo, questionando, que a teologia se mantém na lida. Aos que já chegaram ao "cume do monte" pela fé, felicitações. Se mais cedo ou mais tarde nos encontrarmos, haja congratulações. Se cada vez mais nos distanciarmos uns dos outros no entendimento teológico, que o amor cristão seja a razão e o fundamento do nosso vínculo social.
Willians Moreira
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