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domingo, 15 de fevereiro de 2009

UM SONHO
Numa dessas noites, eu tive um sonho. Vi-me passando por um portal de forma inexpressiva, mas que, ao encontrar-me do outro lado, tal foi a minha surpresa ante a visão fenomênica de imagens que associei imediatamente ao paraíso. Por algum tempo, parei como que sem saber como proceder naquele mundo. Era beleza demais para a minha capacidade de percepção estética. Na verdade, eu não sabia que direção tomar. Mas, aos poucos, a natureza me envolveu e me elucidou que não havia prioridades naquelas circunstâncias, mas que eu me deixasse conduzir. Uma voz me disse naquele instante que naquela dimensão a razão era muito pouco ou quase nada necessária. Então me entreguei à viagem. De início, quis andar, mas percebi que melhor seria me deixar deslizar. E deslizei por montes, vales e campinas. Senti aromas que levaram meus olhos a perder sua órbita habitual. Depois de algum tempo, percebi que meu corpo como que planava, permitindo que minha pele sentisse a maciez da epiderme do paraíso. Naquele mundo, os meus olhos não precisavam estar abertos. Mesmo assim, eu enxergava tudo e de vários prismas. O espectro das cores do conjunto lembrava a disposição das cores do arco-íris; o que me fez entender que a natureza estabeleceu uma aliança comigo. Às vezes, sentia que a superfície se movia numa ondulação serena, cadenciada, que acelerava o seu ritmo de movimento. Percebi que ali vulcões também ensaiavam erupções.

Aos poucos fui deslizando, conduzido que era para uma região de montanhas altas, entre as quais avistei um vale em cujo centro descançava uma fonte de águas cristalinas. Senti que, à medida que me aproximava, meu coração acelerava e eu me perguntava se suportaria todo aquele momento do espírito. A voz que me acompanhava, disse-me: “Desta fonte procede a vida e nela você pode se rejuvenecer”. Fiquei extasiado.

De início fui tocando a fonte com um sentimento profundo de gratidão. Enquanto a tocava, suas comportas foram se abrindo. Resolvi então mergulhar. Mergulhei em movimento ondulatório de um contínuo voltar à superfície. Aos poucos senti uma luz clarividente invadir-me a alma. Em fração de segundos, o êxtase tomou conta de mim, num crescente contínuo. A Vida estava a percorrer o meu ser, de modo a compreender que o sentido da existência poderia se resumir apenas na harmonia com a natureza. A harmonia era a chave do êxtase. A harmonia é a chave da vida. Comigo pensei: mas isso eu já sabia! Foi quando a voz me disse: “Sabia e sabe, mas não vive. Não viver o que se sabe é uma expressão de ignorância”. Então a voz suavizou e eu fui sendo colocado sobre a relva macia que circundava a fonte. Meu ser se encontrava numa paz profunda, embora paradoxalmente cansado.

Comecei a me refazer para tomar o caminho de volta. Enquanto retornava, fui tentando memorizar o caminho seguido, para facilitar o retorno àquele lugar. A voz retornou e me disse: “Se memorizar o caminho, você se cansará de voltar aqui; com o tempo ficará monótono e você não quererá voltar mais. Volte como se fosse a primeira vez. E Lembre-se: A harmonia não elimina a razão; mas a supera”.

Quando passei pelo portal pelo qual adentrei àquele mundo paradisíaco, entendi que minha vida precisaria de um novo rumo; uma nova disposição, um novo horizonte; tudo pela harmonia.
Willians Moreira

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