Páginas

sábado, 10 de março de 2012

CONTINUAÇÃO DO TÍTULO " O PROBLEMA DO MAL EM LEIBNIZ"


Na modernidade, aparece o problema do mal também contraposto ao problema da onisciência divina. É significativo o pensamento do socinianismo[2] quanto a este atributo divino em relação ao problema do mal. Para os socinianos, o mal é incompatível apenas com a existência de um Deus onisciente. Referindo-se ao socinianismo, Leibniz diz textualmente: "Assim, os socinianos não podem ser excusados de negar a Deus o conhecimento exato de eventos (escolhas) futuros, e sobre tudo, de decisões futuras de uma criatura livre".[3] Os socinianos ensinavam ainda que a misericórdia e a justiça em Deus se opõem; a justiça não seria um atributo imanente de Deus; seria apenas um efeito de Sua livre escolha. Essa teologia abre espaço para certa arbitrariedade da parte de Deus quanto a governar a sua criação. Tal pensamento causou impacto no próprio Leibniz, uma vez que uma mente cristã não desfalca a natureza divina do atributo da justiça.
Para os modernos, o status quaestionis do problema do mal parece implicar em um problema face à bondade divina, bem como face à onisciência, à vontade e à justiça divinas.
Rutherford diz que Leibniz, cedo em sua carreira filosófica, chegou a uma resposta à questão de Epicuro sobre o mal.[4] Mas o problema do mal não o abandona, de sorte que Leibniz reflete sobre o mesmo até os seus últimos dias (RUTHERFORD, 1998. Pág. 07).
            Portanto, com estes pressupostos, apontam-se diretrizes para um estudo do que Leibniz escreve sobre Deus e sua natureza; sobre a relação entre a vontade de Deus e sua razão; sobre a harmonia universal preestabelecida e sobre a justiça divina em julgar os espíritos (temas sobre os quais discorre também na Monadologia). A Teodicéia pode ser lida mesmo como uma resposta aos socinianos, que pensavam o inverso de Leibniz. Mas também como uma resposta a Arnauld, seu correspondente. Entende-se sua justificativa da bondade e justiça divinas: é uma tentativa de responder à questão deixada pelos medievais. O sofrimento, aparentemente injusto, recebe um tratamento leibniziano para assim justificar Deus em face dos questionamentos humanos (RUTHERFORD, 1998. Pág. 07).
Natal/RN, 10 de março de 2012.
Willians Moreira Damasceno

Continua em "A HARMONIA PREESTABELECIDA"

[1] Continuação de "O PROBLEMA DO MAL EM LEIBNIZ".
[2] Teologia racionalista antitrinitariana difundida no século XVII. Seus iniciadores foram Lelio Sozzini e Fausto Sozzini, ambos do século XVI. A influência do antitrinitariano Miguel de Servetus faz-se presente nas doutrinas dos socinianos. Os Jesuítas suprimiram esse movimento na Polônia, mas as idéias socinianas espalharam-se para a Holanda e Inglaterra, e daí para a América. A moderna igreja Unitariana é um descendente direto dos socinianos da Polônia (CAIRNS, 2003, pág. 250 e 251).
[3] Original: "Ainsi les Sociniens ne sauroient être excusables de refuser à Dieu la science certaine dês choses futures, et sur tout des resolutions futures d'une creature libre" (GERHARDT, Vol. 7. Pág. 108).
[4] "God either wishes to take away evils and is unable; or he is able, and is unwilling; or he is neither willing nor able; or he is both willing and able. If he is willing and unable, he is feeble, which does not agree with the character of God; if he is able and unwilling, he is malicious, which is equally at odds with God; if he is neither willing nor able, he is both malicious and feeble and therefore not God; if he is both willing and able, which is alone suitable to God, form what source then come evils? Or why does he not remove them?"

Nenhum comentário: