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quinta-feira, 22 de julho de 2010

A MEDIOCRIDADE DE MUITOS PREGADORES


            Tempos atrás, em sala de aula, um aluno me perguntou se eu aceitaria o cristianismo a depender da pregação atual. Parece-me que a pergunta surgiu em face da discussão sobre a mediocridade dos pregadores em geral. Estava a dizer que, na atualidade, dificilmente se ouve um pregador que tenha uma argumentação consistente; se é que se pode dizer que realmente argumentam. Na verdade, conta-se a dedo os que são dignos de serem ouvidos. A grande maioria argumenta pessimamente sobre assuntos banais. Assuntos que não fazem parte da gema do cristianismo. No mais das vezes, são abordagens infantis, ingênuas, emocionais, doutrinariamente desprovidas de embasamento bíblico-teológico; assuntos que o Cristo certamente com os tais não se preocuparia. Por exemplo: galardão, de que materiais são as mansões celestiais e coisas dessa natureza. Quando o assunto é pertinente, a argumentação é de baixa qualidade. Haja paciência! O problema com tais pregadores, na época da discussão, e ainda hoje pelo que me consta, é a falta de estudo responsável. Na época, eu dizia que aquela conversa de que o Espírito Santo dá o que o pregador falará, era uma desculpa para ratificar a preguiça da grande maioria de paroleiros do púlpito. A argumentação destes é horrível! Dizendo-se que a sabedoria do mundo é contra Deus, muitas vezes, expressa-se uma pneumatologia dos diabos. Haja paciência! Então, digam-me: Para quê os cursos teológicos? Talvez seja isso que explique porque há tantos estudantes medíocres em instituições teológicas. Dói-me o juízo ao me deparar com estudantes que revelam abertamente sua falta de consideração a si mesmos por não saberem o rudimentar, muitas vezes, já cursando disciplinas de final do curso teológico. Pergunto-me sempre: Que espécie de teólogo será este? Saberá mesmo dialogar com os sábios do mundo, os quais realmente existem? Saberá dialogar com os sábios da Igreja, não menos hábeis que aqueles? Como se não bastasse, muitos desses futuros teólogos, se os podemos chamar assim, como muitos cristãos do passado, quando não conseguirem entender os seus interlocutores e não defenderem bem sua própria teologia, dirão que aqueles são hereges. Ainda bem que a fogueira de hoje é apenas ideológica. Sorte nossa! Não seremos vítimas de uma apresentação pirotécnica. Haja paciência!
            Pois bem! A minha resposta àquele aluno foi que, se o cristianismo não me apreendesse enquanto eu na adolescência, certamente seria difícil, hoje, a depender de tais pregadores, enfileirar-me na senda cristã. Disse isso na época porque me lembrei também de um pregador que ouvia sempre e me encantava naqueles idos de minha puberdade. Mas depois que passei à adulticidade e o escutei novamente, fiquei estupefato com a sua mediocridade. Suas historinhas de carochinha, contadas para embalar a ignorância e a ingenuidade populares. Lembrei-me também de um colega de Seminário, hoje num alto cargo dos antros da política nacional, que eu acompanhava ao piano, quando ele ia pregar e cantar nas igrejas da capital pernambucana. Quando saíamos do evento religioso, eu lhe dizia: Como você pode falar aquelas coisas para o povo? Ele respondia que era aquilo que o povo queria ouvir. Eu ficava indignado. E ele ria de mim.
            Quantos, nos templos cristãos, não estão frustrados com o que ouvem dos diretores de creches espirituais? Líderes que mais querem que suas crianças permaneçam a tomar o leite azedo que lhes dão, mas que o fazem parecer com o néctar dos céus. Aqui me lembro do filósofo Epicuro, em sua carta ao discípulo Meneceu, Carta sobre a Felicidade, na qual ele diz: "Ímpio não é quem rejeita os deuses em que a maioria crê, mas sim quem atribui aos deuses os falsos juízos dessa maioria"[1]. Daí a minha preocupação com aqueles pregadores que dizem só o que o povo quer ouvir e, pior, de maneira medíocre. Aqueles conseguem assim encher os seus bolsos, atestando assim que as massas, além de insanas em seus juízos, nem mesmo requerem que seus mentores se habilitem para convencê-las com argumentos pertinentes.
            Sorte dos primatas humanos! A divindade não é mesmo, nem de longe, compatível com a imagem que dela pintam. Se o fosse, tais pregadores seriam os primeiros a serem consumidos pelo fogo do suposto inferno. Aí, sim, teríamos uma gloriosa demonstração de pirotecnia infernal à custa da banha dessas "vacas de basã", que vivem a explorar a humanidade.
Willians Moreira



[1] EPICURO. Carta sobre a felicidade (a Meneceu). São Paulo: Editora UNESP, 2002. Pág. 25.

5 comentários:

edvardeoliveira@gmail.com disse...

Subscrevo e tremo por mim!!!rs

Avelar Jr. disse...

Excelente texto, Willians. Tanto o tema como a abordagem foram muito pertinentes.

O louvor da ignorância, o deslumbramento com a superficialidade, o apelo do ruidoso, o contentamento com a mediocridade, a falta de piedade por parte das lideranças... Deus tenha misericórdia de seu povo.

rev. Célio Bezerra disse...

Penso que alguns pastores se encaixam na descrição de Lacan sobre a ilusão como um "mal necessário". Para Lacan a conquista de um sonho também é o momento da desiluzão, o que faz com que o ser humano esteja constantimente substituindo um sonho por outro.
Alguns pastores são verdadeiros especialistas em vender ilusão (sonho), na verdade eles estão alimentando a ilusão alheia.
Parabéns pela brilhante reflexão.
Célio Bezerra

Marcos Monteiro disse...

Willians, andei correndo pelo seu blog e gostei muito. A gente precisa arranjar algum jeito de se encontrar pelos caminhos e descaminhos da vida... Um grande abraço.

Simone e Reniê Abel disse...

Meu tema de monografia deverá ser a função de mestre do pastor. A culpa não apenas deles, mas especialmente das igrejas (instituições), que no afã de ter uma igreja (templo, prédio) em cada esquina precisam de quantidade de pastores, desprezando a qualidade. Também do fato de que estão em busca de homens que façam crescer e administrem pessoas e dinheiro, não líderes que guiarão o rebanho de Deus pelo exemplo e pelo ensino.