Se a todos fosse dada a oportunidade de voltar no tempo, com a possibilidade de interferir no seu próprio destino, provavelmente a maioria aceitaria a oportunidade. Quantos, se voltassem ao passado para retomarem a caminhada, não mais casariam com a mesma pessoa, não morariam em certos lugares que moraram, não mais escolheriam a mesma profissão, não mais iriam a certos lugares que foram, não tomariam certas decisões que até hoje refletem seus resultados indesejáveis? É verdade que algumas realidades podem ser revertidas, mas e o tempo que se perdeu? Esse é irrecuperável.
Em alguns mais, em outros menos, o fato é que nos machucam profundamente algumas reminiscências quando não as podemos depurar.
Todos nós temos algo que gostaríamos que fosse mudado em nossa vida; disso nós não podemos escapar.
Acontece um transtorno em nossas emoções quando deixamos que frustrações se acumulem em nossas lembranças. Remoer, murmurar sobre alguma coisa é como uma coceira... quanto mais se coça mais se deseja coçar! E quando menos esperamos, a ferida está feita!
A vida não é como certos jogos que podemos sempre reiniciar. Para muitos, a vida é como um jogo de uma única partida. Perdeu; perdeu. Ganhou; ganhou. Na verdade, nós nos condicionamos ou fomos condicionados a nos vermos assim: como perdedores ou ganhadores. Talvez isso explique porque há tanta competição entre os humanos. Isso é determinado pela cultura ou é resultado da própria natureza? O fato é que algumas jogadas, neste jogo de uma única partida, até que podem ser revistas e refeitas; no entanto, a partida é uma só; com vitória ou derrota; uma ou outra, quem identifica o nosso caso? Pensando, porém, pelo prisma de que algumas jogadas podem ser revistas e refeitas, acredito ser possível que novas medidas sejam tomadas; medidas essas que, sem dúvida, mudarão o rumo do jogo.
É preciso muita vontade e coragem para que revisões e mudanças sejam realizadas. Há humanos que se lançam nestas investidas de mudanças. Há aqueles que desfazem casamentos e aventuram-se novamente. Há aqueles que mudam de profissão. Há aqueles que mudam de fé. Há os que mudam de emprego. Há sempre alguém disposto a fazer algo por si quando descobre um sentido mais amplo do que seja liberdade.
Parece que muito do que somos se processa no âmbito da consciência do que seja liberdade. Pode ser uma questão de conceito. Alguns se sentem livres para começar tudo de novo, mesmo que para isto tenham que arcar com consequências às vezes cruéis. Outros não são tão corajosos. Muitos, em virtude de certa consciência ética, conformam-se em suportar amarguras, visando não prejudicar a outros. Permanecem como escravos de circunstâncias extremamente doentias, conseguindo, sabe-se lá como, adquirir certa tolerância a uma má fortuna.
No entanto, como todo conceito é passível de revisão, desenvolvimento ou abandono, e levando-se em consideração que a vida nos prega peças que podem mudar-nos da noite para o dia, é possível que encontremos quem aja do modo como nunca esperaríamos.
O enfoque está na nossa compreensão do que seja liberdade e também no nível de liberdade que nos permitimos.
Entra aqui uma reflexão superlativamente revolucionária: Qual a compreensão que temos do que seja liberdade e qual é o nível de nossa liberdade em face desta compreensão?
Desde que nascemos, são-nos impostos limites com os quais haveremos de conviver por muito tempo, se não por toda a nossa vida. A família, a escola, a igreja, o Estado, os amigos, etc., transmitem-nos parâmetros que incorporamos em nossa visão de mundo e de relacionamento. Generalizadamente, passamos pela vida presos a toda uma herança cultural que nos condiciona a certas ações e reações. Fugindo da generalização, há muitos que conseguem reavaliar essa herança cultural, construindo novos rumos para a sua vida. Aqui se encontra a diferença entre muitos: os que aprendem a viver por si e os que não conseguem libertar-se de certas amarras culturais.
A luta começa quando nos defrontamos com situações em que surge a necessidade de refletirmos a diferença. Uns conseguem superar-se; outros continuam acomodados ou aprisionados.
Uma contingência humana que interfere poderosamente em nossas decisões é o medo. O medo tolhe, no mais das vezes, a busca da liberdade, levando-nos a ter medo do que os outros irão pensar, do que nossas ações poderão causar aos outros, principalmente aos que amamos. Temos medo de perder algo ou alguém que julgamos extremamente significante. Temos, às vezes, medo de um futuro incerto. Justificamos as nossas recalcitrações citando o ditado: "Mas vale um pássaro na mão do que dois voando". E, por isso, muitos continuam a sua vidinha sôfrega e aprisionada, suportando amarguras.
Há, sem dúvida, realidades às quais não podemos aplicar mudanças. No entanto, no mais das vezes, podemos recomeçar, apesar do tempo perdido. A questão é: assumimos ou não a liberdade de recomeçar?
Impossibilidades podem ser apenas uma questão de visão. O nível da consciência que temos de nossa liberdade poderá fazer a diferença consideravelmente.
Um comentário:
"Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós. Nas lutas, nas tempestades, dá que ouçamos tua voz"
Acho que a letra é assim...rs
Grande abraço,
Postar um comentário