Via de
regra, aos domingos, ouço uma prédica diferente; outras vezes, praticamente a
mesma por pessoas diferentes. Prédicas iguais no que se trata de ideologia
teológica e homilética. Neste último aspecto, diga-se de passagem, geralmente
as prédicas são exemplos claros de que o usuário do púlpito é mesmo desabilitado
ou inexperiente: Não há mesmo nenhuma perspectiva de que o tal tenha aprendido
a lição mais rudimentar da disciplina da pregação. Isso sem falar sobre o
aspecto da oratória.
Uma vez ou
outra, e isto superlativamente raro, presencio pregador que demonstra certa
absorção de lições fundamentais sobre o uso do púlpito. Ultimamente, compareci
a uma cerimônia, na qual um dos usuários do púlpito atuou relativamente melhor
do que a grande maioria que presencio. O seu conteúdo estava meio denso,
carregado de pesquisas, que, na verdade, serviram mais para preencher o seu tempo
e impressionar ao público; menos para embasar o seu argumento. A plateia (Jo.
7:49) gostou; afinal, a retórica do paroleiro recebeu mais projeção do que o assunto
tratado. Houve mesmo uma tentativa do pregador de se parecer com um grande
orador. Lembrei-me, na ocasião, de Saul e Davi. Embora Davi tenha sido sábio o
bastante para não usar a armadura de Saul, a ele oferecida pelo rei israelita. Final
das contas: pregador ovacionado; e eu estupefato. Face a essas ocorrências, tenho
procurado conscientizar-me de que a multidão, por conta de sua ignorância, contenta-se
mesmo com o mínimo, mesmo que o pregador se apresente com a retórica da “armadura
de Saul”.
Pessoalmente,
faço distinção entre ser pregador e ser orador. Desde que oratória é uma arte, penso que a prioridade de quem
vai ao púlpito não é ser artista. Antes o púlpito é lugar de transmissão do
conteúdo interpretado da revelação bíblica; não é lugar para apresentação
artística. Usar o púlpito com este objetivo é desvirtuar a finalidade da
pregação evangélica. Evidente que a oratória envolve mais do que o fator
artístico; ela não apenas promove diversão e satisfação de gosto estético. Sua
jurisdição também abrange o aspecto da intenção de informar e influenciar os
ouvintes. Porém, estes fatores estão subjugados ao fator principal, que é satisfazer
aos expectadores. Como toda arte, a oratória observa regras e técnicas. Na
oratória, a observância destas realidades busca mesmo apurar as qualidades
pessoais do orador, pois que, enquanto artista, busca mesmo a autosatisfação
enquanto se apresenta.
Ser pregador é ser transmissor do
conteúdo bíblico. Neste particular, aquele que assim age, não deve priorizar o como
se apresenta. Mas, acima de qualquer consideração, a preocupação do pregador
deve voltar-se para o conteúdo do que transmite. O pregador esquece-se de si. A
prioridade é o conteúdo bíblico. Se a prioridade for burilar a si próprio para se
apresentar ao público passa a ser expressão de desejo de glória. E isto não
cabe ao pregador. O objetivo deste é colocar os holofotes na revelação; não em
si mesmo. Decorre disto que não se preocupa em se apresentar, mas antes em
transmitir o melhor possível a mensagem da revelação. Seu objetivo não é entreter
o ouvinte; antes, e acima de qualquer outro fator, busca levar o homem a se aproximar
mais da divindade. A pregação direciona o homem à fé; a oratória em si direciona
o homem ao próprio orador. A pregação faz brilhar a divindade; a oratória faz
brilhar o orador. Quando vejo um pregador sendo ovacionado, preocupo-me
bastante com o destino da pregação e o destino dos ouvintes.
Deve ficar evidente aqui que não sou
contrário à oratória. Sou contrário, sim, à ênfase esmerada que se dá à uma
retórica, em detrimento do objetivo principal da pregação, que é o de levar vidas
à mudança conforme os ditames bíblicos. Quando presencio um pregador, com certa
entonação de voz, com certos movimentos do corpo, das mãos, do quadril, com gesticulação
facial desconforme com o seu natural, buscando com isso causar no público um
efeito a si favorável, percebo nisso o desejo humano de querer para si a
glória. E quando se trata de pregador iniciante ou inexperiente, as extravagâncias
retóricas laboram contra ele próprio.
Ao pregador permite-se-lhe o uso da
retórica, sem jamais se permirtir ofuscar a sua missão de conduzir o ouvinte ao
conhecimento da divindade.
Willians Moreira Damasceno
Um comentário:
Gostei muito deste seu artigo, considerações sutis a respeito de uma realidade presente.Eu particularmente iniciei meu ministério há pouco tempo, prego há cerca de 5 meses apenas, sendo que me converti fazem 2 anos.... Vejo o púlpito como o lugar de sacrifício a Deus, onde por meio deste sacrifício Deus nos usa para transmitir o seu desejo.Jamais podemos nos acostumar com certas regras impostas baseadas e embasadas em livros de homilética, gosto muito de apresentar parábolas em minhas ministrações, assim o Mestre Jesus me ensinou. Porque antes de Teologia ser uma Graduação, o TEO já existia, e exigia de nós a simplicidade na exposição, mas o comprometimento com a santificação... esse é o segredo. Concordo com o irmão quando disse que muitos esperam o efeito desejado pra sua própria glória, mas o coração só Deus conhece, e é ele que diferenciará o joio do trigo quando o dia chegar.A paz querido.
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