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segunda-feira, 9 de maio de 2011

TEOLOGIA LIBERAL


           A interpretação racionalista do Novo Testamento foi chamada de Teologia liberal. Esse tipo de interpretação trabalhava com um método de investigação histórico-crítico das fontes bíblicas e da teologia. Este método reflete, sem dúvida, a mente Iluminista. Essa interpretação surge do diálogo do liberalismo com a reflexão protestante, como também estava sob a influência de correntes filosóficas específicas, como o kantismo e o hegelianismo, sem esquece da influência dos filósofos deístas[1].
            Desde o início do século XIX, já encontramos Baur, Strass Bauer, que usam deste método racionalista na análise bíblica. Estudiosos como Albrecht Ritschl, Herrmann, Wellhausen, Harnack e Troeltsch foram expoentes deste tipo de interpretação.
            As características básicas da Teologia Liberal[2] podem ser apresentadas como: a) Uso do método histórico-crítico; b) relativização da tradição dogmática da Igreja; e c) ênfase numa compreensão ética do cristianismo.
            Pode-se encontrar um otimismo na Teologia Liberal na perspectiva de conciliar a religião com a cultura. Dois estudiosos, Harnack com "A essência do cristianismo" e Troeltsch com "A absolutidade do cristianismo" são expressões deste otimismo.
            Teólogos como Barth e Bultmann foram alunos de Harnack, sendo por algum tempo teólogos liberais.
Adolf Harnack (1851-1930) foi um dos expoentes da interpretação teológica do século XIX que adentrou o século XX. Era um historiador da Igreja. No seu trabalho, "A essência do cristianismo", ele ensina: "O evangelho, como Jesus o praticou, não anuncia o Filho, mas somente o Pai."[3] Segundo o teólogo Rosino Gibellini[4], "Harnack excluía toda e qualquer cristologia eclesiástica como fruto da contaminação do pensamento grego." Harnack chega mesmo a dizer que "toda a construção da cristologia eclesiástica passa longe da personalidade concreta de Jesus Cristo"[5].

          Para Troeltsch, teólogo e filósofo, o cristianismo é um fenômeno histórico, jamais devendo ser visto como a realização absoluta, incondicionada e imutável do conceito universal de religião.

          A Teologia Liberal foi um estímulo para que outras reflexões surgissem, inclusive por parte de ex-liberais.

          Hoje, se a estampa da Teologia Liberal não aparece abertamente, muitos são os teólogos que entendem ter sentido o método histórico-crítico de interpretação da Bíblia.

          Generalizamente falando, o Princípio Hermenêutico adotado pelos teólogos liberais é o princípio do racionalismo temperado com relativismo, hegelianismo e kantismo. Prova suficiente de que não há teologia sem filosofia.

Willians Moreira Damasceno
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[1] HÄGGLUND, Bengt. História da teologia. Porto Alegre: Concórdia Editora LTDA, 1986. Pág 324.

[2] GIBELLINI, Rosino. A teologia do século XX. São Paulo: Edições Loyola, 1998. Pág. 19.

[3] Idem, pág. 14.

[4] Idem.

[5] Idem, pág. 14.

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