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segunda-feira, 4 de abril de 2011

DIFERENÇA ENTRE SABER E SENTIR

Entre os filósofos, um dos campos de ampla discussão é a epistemologia. Neste campo, a discussão aborda assuntos relativos ao conhecimento humano. As questões apontadas são as mais diversas, desde o que, o como, o porquê, e outras tantas questões sobre o conhecimento. Uma questão complexa, pois não se conseguiu ainda chegar a uma conclusão com a qual a maioria se considere satisfeita e convencida, tem relação com os fenômenos do saber e do sentir.
Para se conseguir algum êxito sobre uma discussão, necessita-se de conceituações sobre os objetos da discussão. De forma que saber e sentir merecem atenção, pois se torna praticamente impossível discutir sobre esse assunto, sem antes especificar o que se entende por estes fenômenos. Sendo assim, de modo básico, pode-se conceituar o saber de duas formas. Primeira, como conhecimento em geral, qualquer técnica com a organização de seus resultados[1]. É o caso do pedreiro que sabe como construir uma casa. Segunda, "como ciência, ou seja, como conhecimento cuja verdade é de certo modo garantida"[2], como é o caso das ciências. Em ambos os casos há um atestar da consciência de que algo acontece, mas que não interfere necessariamente nas emoções da mesma forma e intensidade que estas são afetadas quando o movimento da sensação acontece. Filosoficamente, é questionável falar de uma sensação de saber, pois que sensação parece envolver movimento, ao passo que o saber parece apresentar-se frio, calculista, estático: sabe-se e pronto! A sensação parece mexer com o corpo e, por isso, pode-se associá-la ao sentir, pois que este envolve movimento das emoções e, portanto, uma sensação. Mas o que vem a ser sensação? A sensação parece estar associada ao sentir e não ao saber como consciência de algo. Mas ainda assim não se pode dizer que há uma satisfação sobre o conceituar sensação como medida ou parâmetro da diferença entre saber e sentir, mesmo que sensação, em filosofia, associe-se ao conhecimento sensível[3], e, por isso, ao corpo. Pode-se pensar sensação como vinculada à percepção do real, como, por exemplo, uma sensação gustativa, idêntica ao gosto de um alimento. Embora a sinonímia entre sensação e percepção seja também questionável devido à sensação ser pensada também como vinculada à subjetividade e percepção ao dado exterior.
Neste ponto, surge uma questão: ora, se há a sensação de sentir, a sensação de se emocionar, que fenômeno estaria associado ao saber? Parece viável pensar aqui no fenômeno da Razão. Poder-se-ia falar em razão de saber, enquanto se fala em sensação de sentir. O saber vincula-se assim ao intelecto e o sentir às emoções. Essa diferenciação leva-nos a pensar numa consciência de algo. E neste caso, a consciência de saber leva-nos a pensar na consciência de sentir.
Mas o que é consciência? Usamos esse termo como estado de ciência dos próprios processos psíquicos, tanto em relação à razão, quanto em relação às sensações. Percebe-se assim que o assunto não é tão simples. Talvez possa ser dito que na consciência de sentir envolve-se a sensação, um fenômeno em virtude do qual o corpo torna-se testemunha de tal; enquanto na consciência de saber envolve-se a razão, com a qual estão relacionados os aspectos da subjetividade, no que tange ao intelecto, não às emoções, necessariamente. Mas se pensamos que a consciência de saber também pode levar a sensações, pode-se dizer também que a sensação está ligada a certa consciência de saber. Haveria assim, dois tipos de consciência de saber: uma que promove sensação e outra que não. Mas ao se pensar na consciência que um estudante pode ter de saber a tabela periódica dos elementos químicos, pode-se também raciocinar que enquanto não há um teste sobre o assunto, a consciência de saber não traria sensação, como traria se estivesse prestes a passar por teste sobre o assunto, e por conta de saber do assunto, já pensaria na aprovação. Mas o que acarretaria essa sensação? A consciência de saber ou a suposição de que poderá ser aprovado? Ou ambos os casos? No momento, tenho a consciência de saber que se eu teclar no meu notebook obterei o registro de minhas idéias e raciocínios. Mas a consciência de que escrevo algo que poderá levar alguém a refletir filosoficamente sobre o meu assunto, já me dá a sensação de certa satisfação. Distingue-se assim uma consciência da outra. No entanto, se conceituamos a consciência como "estado de ciência", surge a premência de se pensar num saber que se eleva acima tanto do sentir algo, como também do saber algo.
De passagem, com superficialidade, fica a diferença básica entre saber e sentir: a razão está para o saber, assim como a emoção está para o sentir; embora se saiba que saber algo pode trazer emoção.
Nesse passo, instala-se a sensação de prazer por finalizar este arremedo de ensaio, acompanhada de uma reflexão, mesmo que rudimentar, abrindo a porta para novas possibilidades de novos pensares sobre epistemologia.
Willians Moreira Damasceno


[1] ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. Pág. 865.
[2] Idem.
[3] Idem.


Um comentário:

LUCIA HELENA GERALDO disse...

Saber e sentir sempre fez parte da minha luta interior entre o que sinto e o que devo. É quase desleal a concorrência, a razão parece ter pernas curtas se comparada a rapidez com as sensações se expressão, faze-las trabalharem juntas parece necessitam muito esforço o que nem sempre garante bom êxito.