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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

BALANÇO DE AUTODOAÇÃO

Se fosse possível pegar de volta o que você deu a alguém, o que você pegaria? Pergunto isso porque sei que é fato que se fosse possível, teríamos mesmo de volta muito do que já demos a muitas pessoas. Alguns querem de volta coisas materiais; outros querem coisas emocionais; outros querem coisas espirituais. Alguns querem de volta o tempo. Principalmente quando percebem que aquele tempo dado a alguém poderia ter sido dado a outra pessoa.
Eu, particularmente, não quereria de volta coisas materiais, a não ser um ou dois livros; e isto pelo valor cultural, nunca pelo material. Também não os quereria apenas por querer, como a desejar que alguém algo meu não tivesse.
Às vezes, eu gostaria de não ter dado certas emoções que dei a alguém: emoções de ódio, de amor, de carinho, de indiferença, de desprezo, de inveja e outras tantas, favoráveis e desfavoráveis que já dei a muitas pessoas. Afinal, com cinquenta anos já me envolvi em muitos relacionamentos e continuo a me envolver.
Por muito tempo dei minha vida a muitos de forma intensiva e intensa. Esquecia-me de mim quase que o tempo todo, mesmo que não parecesse. Mas aquele tempo passou. Hoje continuo me dando a muitos, mas não mais com as motivações do passado.
O melhor de tudo hoje é que tenho alguém a quem dou tudo o que posso e tudo o que sou; alguém de quem não quero coisa alguma de volta, pois que deste alguém eu mesmo sou e de volta não me quero. Tenho me perguntado se esse não é o ponto em questão. No passado, parece que dei algo de mim, mas até que ponto entreguei-me como sou entregue hoje? O problema é que às vezes nos entregamos mesmo, mas, com o passar do tempo, somos devolvidos a nós mesmos sem que o outro perceba que a cada dia faz a devolução. E o pior de tudo é que quando alguém a nós se entrega, muitas vezes, nós mesmos não percebemos que fazemos também uma devolução.
Willians Moreira Damasceno.

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